Resumo: A Psicologia busca construir aspectos que auxiliem no desenvolvimento do indivíduo frente às diversas situações. Com isso, o presente relato de experiência visa apresentar o trabalho desenvolvido pela Psicologia do Esporte numa equipe de Cheerleading do Paraná, onde o objetivo principal foi o manejo do estado de humor da equipe durante o período de isolamento social por COVID-19. A partir das aplicações quinzenais da Escala Brasileira de Humor (BRAMS) e das demandas observadas (manejo de ansiedade, autocobrança e otimização do desempenho esportivo) as seguintes intervenções foram aplicadas: técnicas de respiração e relaxamento, mindfulness, mentalização e estabelecimento de metas. As atletas relataram melhor organização da rotina, redução da ansiedade e autocobrança e melhora na concentração e na consciência corporal. Notou-se também diminuição no estado depressivo, menor oscilação de humor e melhora no relacionamento intra-time. Mesmo ocorrendo episódios de crises nas atletas percebe-se uma melhora na saúde mental das mesmas.
Palavras-chave: Psicologia do Esporte; Cheerleading; isolamento social.
Sport Psychology care in cheerleading during social isolation: an experience report
Abstract: Psychology seeks to build aspects to assist the development of the individual when facing challenging situations. Therewith, the present experience report presents the work developed by the Sport Psychology professionals in a Cheerleading team from Paraná, in which the main goal was the management of the team’s mood during the period of social isolation brought by COVID-19. Through biweekly applications of the Brazilian Mood Scale (BRAMS) for the observed demands (anxiety and self-demand handling and optimization of sportive performance) the following interventions were applied: breathing and relaxation techniques, mindfulness, mentalization and goal setting. The athletes reported better organization of their routines, reduced anxiety and self-demand and improved concentration and body awareness. There was also a decrease in the depressive state, mood variations and improvement in the relationship within the team. Despite sporadic crisis episodes in athletes, there is an improvement in their mental health.
Keywords: Sport Psychology; Cheerleading; social isolation.
Servicio de Psicosport en el cheerleading en aislamiento social, un relato de experiencia.
Resumen: La psicología busca construir aspectos que ayuden en el desarrollo del individuo. El presente informe de experiencia presenta el trabajo desarrollado por la Psicología del Deporte en un equipo de Cheerleading, cuyo objectivo fue la gestión del estado de ánimo del equipo durante el aislamiento social por COVID-19. A partir de las aplicaciones de la Escala Brasileira de Humor (BRAMS) y de las demandas observadas (gestión de la ansiedad, auto-cobranza y optimización del rendimiento deportivo) se aplicaron las siguientes intervenciones: técnicas de respiración y relajación, mindfulness, mentalización y fijación de metas. Los atletas informaron una mejor organización de la rutina, reducción de la ansiedad y auto-cobranza, mejor concentración y conciencia corporal. Además, se notó la disminución en el estado depresivo, cambios de humor, y relaciones dentro del equipo. Aunque hayan episodios de crisis, se nota una mejora en su salud mental.
Palabras clave: Psicología del Deporte; Cheerleading; aislamiento social.
O presente estudo trata-se de um estudo descritivo, tipo relato de experiência, visto que, seu objetivo é relatar a experiência vivida no decorrer de determinada intervenção realizada com o público em questão (Azevedo, Vale, Araújo, Cassiano, Silva & Cavalcante, 2014). Ele foi elaborado frente ao contexto de atuação em Psicologia do Esporte, com uma equipe da modalidade Cheerleading, em tempos de isolamento social por conta da pandemia de COVID-19, a partir do uso de técnicas da psicologia (tais como: técnicas de respiração e relaxamento, mindfulness e estabelecimento de metas), em prol da melhora não somente do rendimento esportivo da equipe, mas também da saúde mental das atletas neste período.
Grindstaff (2020), discorre sobre o surgimento da prática de Cheerleading nos Estados Unidos em meados de 1800, objetivando principalmente animar torcidas nos jogos da modalidade de Futebol Americano dentro do contexto universitário. Atualmente, é um esporte composto majoritariamente por mulheres, mas originalmente era praticado por homens.
Segundo Alves, Denerevich e Gusso. M. (2020), foi no início do século XXI que o Cheerleading se concretizou na América do Sul, contudo, somente em 2009 foi criada a primeira instituição federativa do esporte no Brasil, denominada União Brasileira de Cheerleading (UBC). Dados da revista da Associação Paranaense de Cheerleading, descrevem que no Paraná, o número de equipes da modalidade são de aproximadamente 60, onde 17 concentram-se somente na capital Curitiba.
A Psicologia do Esporte é um campo reconhecido por suas investigações em emoções e comportamentos advindos do contexto esportivo. Tornando-se relevante para a compreensão das influências dos aspectos psicológicos não somente voltados ao desempenho esportivo, mas também contribuindo para aspectos voltados a saúde mental associados a prática esportiva. (Weinberg & Gould, 2016).
Frente a isto, no que diz respeito à relevância do trabalho da Psicologia Esportiva, atuando em uma equipe de Cheerleading, se faz necessário ressaltar a busca pela integração dos aspectos físicos, técnicos e táticos, aos processos mentais, dando foco não somente a otimização do desempenho das atletas, mas atuando também no desenvolvimento de habilidades biopsicossociais.
A partir da nova situação que o mundo, o Brasil e, mais especificamente, Curitiba está vivendo, as pessoas então tendo que lidar com uma série de desafios, tendo em vista que nosso país nunca havia passado antes o que tornou o diagnóstico e o prognóstico da situação um tanto mais difíceis.
Dependendo do número de dias em isolamento, há algumas reações que podem ser consideradas. Do início do isolamento até 72 horas são esperadas reações fisiológicas, motoras, cognitivas, taquicardia, hiperatividade, aflição, agressividade, incapacidade de reagir. Das 72 horas até 3 meses são esperados sintomas de dissociação, raiva, confusão, reação ansiosa, conflitos interpessoais, alterações de sono, alterações de apetite, letargia, agitação, violência, mas também momentos de assimilação. E para além dos 3 meses são esperados transtornos de comportamento, transtorno somático, ansiedade, depressão e evitação (Noal, Rabelo & Siqueira, 2020).
Diante disso, é importante que o contato entre os integrantes do time com a Comissão Técnica (CT) continue, pois para muitos esse pode ser o único espaço de socialização. É importante que a CT saiba como seus atletas estão reagindo ao isolamento e que ela também forneça subsídios para o atleta se manter inserido na modalidade, física e mentalmente. E como integrante(s) da CT é igualmente importante que o Psicólogo mantenha contato com os atletas e os demais integrantes da CT, auxiliando-os no gerenciamento de seus sentimentos e sensações nesse período. (Silva, 2020)
A continuidade dos treinos (de uma rotina) e a comunicação a respeito das competições auxilia muito no manejo da ansiedade dos atletas. A incerteza do futuro e a falta de rotina devem ser considerados. Entender o ritmo e o tempo do atleta, focar no momento presente e o que pode ser feito a curto prazo e o que pode ser controlado são estratégias que podem ser utilizadas pela CT. (Silva, Campos, & Bettega, 2020).
(…) explorar sua força de trabalho sem ressarci-lo, usá-lo sexualmente sem seu consentimento, despossuí-lo de seu patrimônio, humilhá-lo, infligir-lhe dores, martirizá-lo e assassiná-lo. Homo homini lúpus[2]. Quem, tendo em vista as experiências da vida e da História, ousaria pôr em dúvida tal apótema? (Freud, 1930/2009, p.108).
A Psicologia busca construir aspectos que auxiliem no desenvolvimento do indivíduo frente à diversas áreas e situações. Quanto ao estudo em questão, torna-se relevante discutir de modo empírico e social, as alterações de humor em atletas no período de isolamento social por COVID-19, não somente no que tange às mudanças de seus níveis de desempenho esportivo, mas também nos impactos na construção de processos individuais e de habilidades biopsicossociais.
Uma das formas de entender como esses atletas se encontravam no período de isolamento social, foi através da Escala Brasileira de Humor (BRAMS), também conhecida como Escala de Humor de Brunel (BRUMS). Ela tem o objetivo de obter uma rápida mensuração (levando cerca de 2 minutos para ser respondida) do estado de humor de populações adultas ou adolescentes.
Segundo Rohlfs et al (2008), a Escala de Humor desenvolvida por Brunel, A BRUMS, foi essencial para a o progresso da validação do questionário para a população brasileira. Este processo de validação do Brazil Mood States (BRAMS) teve uma amostra de 298 participantes de ambos os sexos, com idade média de 18,3 anos, os quais eram residentes das cidades de Florianópolis e Belo Horizonte. O BRAMS foi constituído por meio da tradução para o português e da tradução reversa para o inglês, e mantém os 24 adjetivos e as seis dimensões de humor originais. Ela possui 24 indicadores simples de humor que são nivelados (de 0 = nada a 4 = extremamente) pelo próprio indivíduo que está sendo avaliado. Essas 24 perguntas são classificadas em 6 subescalas: raiva, confusão, depressão, fadiga, tensão e vigor. Os resultados são quantitativos, possuindo pontuação máxima de 150 e mínima de 45.
O BRAMS foi aplicado quinzenalmente, durante o período de 10 semanas, para que não ficasse desgastante para as atletas. Respondiam o BRAMS e participavam das chamadas de vídeo em média 11 atletas. Ele foi aplicado através do Google Forms e os resultados foram repassados para o Planilhas Google onde foram analisados. A partir dos resultados obtidos foram realizadas 22 intervenções com o objetivo de manejar os estados de humor das atletas e auxiliar na tomada de consciência do momento presente.
Técnicas de respiração e relaxamento foram aplicadas com o intuito de baixar os níveis de ansiedade e aprimorar a autopercepção das atletas através da tensão muscular. O mindfulness foi aplicado com o objetivo de trazer as atletas para o momento presente, gerando maior energia, clareza mental e alegria, a aplicação inicial ocorreu na primeira semana de isolamento social, com foco nos 5 sentidos (olfato, visão, paladar, tato e audição) com duração de aproximadamente 15 minutos. E o estabelecimento de metas também foi aplicado objetivando a criação de uma rotina, bem como, de facilitar a motivação principalmente a curto prazo das atletas, gerando maior autoconfiança e diminuindo os níveis de ansiedade. Todas as técnicas aplicadas visavam a saúde mental das mesmas.
Participaram das intervenções 16 atletas ao todo, com idades entre 16 e 36 anos. As intervenções foram realizadas durante 10 semanas, onde foram feitas 6 intervenções na primeira semana, 3 intervenções na segunda e na terceira, 2 intervenções da quarta à sexta semana, e 1 intervenção da sétima à décima semana. Importante ressaltar que cada intervenção tinha duração de 1 hora. Na primeira sessão foram realizadas mais intervenções devido à demanda da equipe, pois logo na primeira sessão as atletas trouxeram diversos desconfortos devido ao distanciamento social, como tensão, ansiedade e pensamentos invasivos. Conforme essas demandas foram sendo atendidas o número de intervenções foi sendo reduzida.
A Tabela 1 mostra as semanas de intervenção, o número de intervenções por semana e as técnicas que foram aplicadas. Cada ‘X’ representa uma aplicação daquela técnica na semana. Por exemplo, na última semana (25/05) foi realizada uma intervenção, onde foi aplicada uma técnica de respiração e relaxamento.
Semana |
Nº de intervenções na semana |
Técnicas de intervenção |
|||
Técnicas de respiração e relaxamento |
Mindfulness | Estabelecimento de metas | |||
1 | 23/03 |
6 |
X X X X |
X X |
|
2 | 30/03 |
3 |
X X |
X |
|
3 | 06/04 |
3 |
X |
X |
|
4 | 13/04 |
2 |
X |
X |
|
5 | 20/04 |
2 |
X |
X |
|
6 | 27/04 |
2 |
X |
X |
|
7 | 04/05 |
1 |
X |
||
8 | 11/05 |
1 |
X |
||
9 | 18/05 |
1 |
X |
||
10 | 25/05 | 1 | X |
Tabela 1: Intervenções realizadas em cada semana
Na primeira e segunda semana nossas intervenções ocorreram todos os dias, na terceira semana passamos para 3 intervenções por semana. Na quarta e quinta semanas passamos para 2 intervenções e da sexta semana em diante passamos para apenas uma intervenção por semana.
A cada encontro com a equipe, antes de dar início as intervenções propriamente ditas, perguntávamos a respeito da rotina das atletas, a fim de levantar informações não somente das questões esportivas e da manutenção das tarefas relacionadas a equipe, mas também considerar o possível surgimento de demandas de saúde mental, advindas do isolamento social. A partir das respostas delas a ansiedade foi uma das demandas mais emergentes. Desse modo visando melhorar minimamente a qualidade de vida delas, aplicamos técnicas como: relaxamento progressivo, e exercícios de respiração.
Hofmann (2003), relata que Jacobson (1888) elaborou essa técnica voltada ao relaxamento muscular gradual, apoiado em dois comportamentos tônicos, o de hipertensão neuromuscular (estado caracterizado pela contração muscular) e o de hipotensão neuromuscular (estado caracterizado por calma e relaxamento). Tal relaxamento tem por objetivo, desenvolver a autopercepção através da tensão muscular.
Quanto às técnicas de respiração foram aplicados três estilos diferentes: respiração quadrada, respiração cíclica e respiração diafragmática. A respiração quadrada consiste em manter o ritmo respiratório em 4 diferentes tempos, levando-se em conta a inspiração, a apneia, a expiração e novamente a apneia dentro de um período de 4 segundos em cada uma das fases descritas. Já no que diz respeito a técnica cíclica, é uma respiração que deve acontecer em 3 segundos de inspiração, e 5 segundos de expiração. Por fim, a respiração diafragmática propõe uma mudança da respiração que vem da região peitoral para uma respiração que é focada no músculo diafragma, associando a expiração e inspiração em um único local, usando as próprias mãos ou o peso de um objeto qualquer para sentir a respiração, com o objetivo de integração do ritmo respiratório com o movimento muscular do diafragma.
Tais técnicas foram aplicadas em prol da melhora da função cárdiorespiratória, auxiliando na manutenção do ritmo compassado e equilibrado. Objetivando também a integração do ritmo respiratório com o movimento musculares das atletas, ampliando sua consciência corporal. A respiração quadrática foi aplicada 3 vezes, a cíclica foi aplicada 4 vezes e a diafragmática foi aplicada 3 vezes.
O mindfulness focaliza a atenção na tarefa do momento, fazendo com que o indivíduo não esteja enredado no passado ou no futuro. Esse tipo de atenção gera energia, clareza mental e alegria. O mindfulness é o oposto do ‘piloto automático’, é estar pleno no presente. (Germer, Siegel & Fulton, 2015).
A primeira técnica de mindfulness aplicada teve como objetivo o treino de habilidades mentais como foco no momento presente, visto que isso traz maior clareza mental. Foi aplicada a técnica com foco nos 5 sentidos (atenção plena no olfato, visão, paladar, tato e audição). Na primeira aplicação, conduzida na primeira semana de isolamento social, foi solicitado às atletas como tarefa, que elas realizassem o mindfulness em algum momento do dia, a seu critério.
Na terceira semana, uma instrução era enviada às atletas por mensagem. Essa mensagem continha uma palavra “PAUSE” que remetia à pausa que deveriam fazer naquele momento por 1 minuto para praticar mindfulness. A mensagem foi enviada 3 vezes por semana.
E na sexta semana de isolamento foi aplicada a atividade “Oi pensamento, obrigada pensamento e tchau pensamento”. A técnica consiste em trazer para a consciência um pensamento que esteja incomodando sujeito e então ele deve dizer a si mesmo “oi pensamento (eu o reconheço), obrigada pensamento (eu o acolho como sendo meu) e tchau pensando (agora vou pensar em outra coisa)”. As atletas já tinham familiaridade com essa técnica, pois ela já havia sido aplicada antes do isolamento social.
O estabelecimento de metas (EM) foi aplicado duas vezes durante o isolamento social, pois na primeira vez foi ensinado como deve ser feito um EM e na segunda retomamos algumas adequações e melhorias que as atletas poderiam realizar no seu EM. Foi aplicado a primeira vez na quinta semana visto que foi observada uma dificuldade de organização de rotina por parte das atletas, tendo então como objetivo uma melhor manutenção da rotina por parte das atletas. O EM teve como foco os âmbitos profissional/escolar, social, esportivo e entretenimento/hobby, mas tendo em vista que nosso trabalho era voltado à Psicologia do Esporte, demos ainda mais enfoque nas metas esportivas, mas não ignorando as outras. Pedimos para que elas nos mandassem uma foto do EM no âmbito esportivo assim que terminassem de planejá-lo e na intervenção da semana seguinte pedimos um feedback de como tinha sido a semana de acordo com o EM. Também deixamos em aberto caso as atletas precisassem de ajuda da CT para realizar o planejamento e também na manutenção do mesmo durante a semana. A atividade também foi repassada para as atletas que não estavam presentes na chamada de vídeo pelas coaches via grupo do WhatsApp. E ficou à escolha das atletas de estabelecer as metas todas as semanas ou não.
Os resultados do BRAMS mostraram que as maiores oscilações ocorreram na depressão (que ficou na faixa de 143 a 45 pontos), fadiga e vigor (que ficaram na faixa de 137 a 45 pontos). E os estados de humor que apresentaram menor oscilação foram a raiva e a confusão (que ficaram na faixa de 124 a 45 pontos). Notou-se também que a depressão e fadiga mostraram-se mais elevadas na semana 2, enquanto que raiva e confusão mostraram mais elevadas na semana 7 e por fim o vigor, que apresentou maior pontuação na semana 9 e menor pontuação na semana 4. A raiva apresentou maior pontuação na semana 10, confusão e depressão apresentaram maiores pontuações na semana 5 e fadiga apresentou maior pontuação na semana 1.
Relacionando tais resultados com as aplicações de cada semana percebe-se que a depressão apresentou queda na semana 5. Isso pode ter se dado em decorrência das intervenções que estávamos aplicando e ensinando para as atletas, ou seja, técnicas de respiração, relaxamento e de mindfulness. Além disso, elas relataram aplicar tais técnicas no seu dia a dia também. Ademais, raiva apresentou menor pontuação na semana 10. Isso pode ter se dado em decorrência de todos os processos, tanto das técnicas citadas acima, como também da aplicação do EM. Ainda, o vigor apresentou maior pontuação na semana 9, o que pode ter sido reflexo de termos trabalhado o EM na semana 5 e 6. Depois disso, deixamos em aberto caso as atletas quisessem realizar o EM toda semana.
No que tange o relaxamento progressivo, pudemos notar que os benefícios vieram não somente para as demandas de ansiedade, mas também, para os níveis de concentração e consciência corporal das atletas. Já a respeito da evolução das demais técnicas de respiração, faz-se importante levar em consideração o período que conduzimos nossas intervenções através dos encontros virtuais. Desde que usamos a primeira técnica de respiração, frente a oscilação de humor das atletas decorrente aos dias de isolamento social, pudemos ver por meio dos resultados do questionário, a diminuição da ansiedade, e uma melhora significativa na organização da rotina cotidiana das atletas e na consciência corporal.
Quanto às aplicações do mindfulness, após duas semanas elas relataram que acharam interessante não saber e não se programar para ter a atenção no momento presente, pois o ‘PAUSE’ poderia chegar a qualquer momento. A última aplicação do mindfulness foi na sexta semana de isolamento social, onde a atividade foi “Oi pensamento, obrigada pensamento e tchau pensamento”. Ao final da aplicação e da intervenção as atletas relataram terem gostado do encontro e estavam se sentido mais aliviadas e menos ansiosas.
Por fim, quanto ao EM, em 20 de abril, dia o qual foi proposto o EM pela primeira vez, havia 10 atletas na chamada de vídeo e as 10 realizaram o planejamento e o enviaram para a Psicologia. Durante a semana uma atleta solicitou ajuda na manutenção do EM.
As técnicas e estratégias aplicadas pela Psicologia tiveram como base a análise das demandas (ansiedade e autocobrança como sendo as principais) e o referencial teórico. Antes, cabe ressaltar o trabalho da Psicologia do Esporte já estava sendo desenvolvido desde o dia 13/02/2020, tendo como objetivo a performance e o alto rendimento. A partir das anamneses e do que já havia sido observado pela Psicologia as atletas já apresentavam altos níveis de ansiedade e autocobrança, mas com o início do isolamento tais aspectos se agravaram, segundo relato das atletas.
Tanto o relaxamento progressivo quanto às técnicas de respiração, foram nossos grandes aliados nesse processo de manejo de ansiedade da equipe. Inicialmente o objetivo era fazer com que essas técnicas ajudassem na ansiedade gerada pelas questões esportivas, nos períodos de treinos e competições, contudo, ao longo do caminho, surgiram demandas enraizadas em outras áreas por conta do período de isolamento social causado pela Pandemia de Covid-19.
A partir do BRAMS e do relato das atletas percebemos que no decorrer das intervenções (durante o isolamento) tais aspectos foram sendo manejados pelas próprias atletas, visto que o nível de vigor aumentou no decorrer das semanas, tendo uma leve decaída na semana 7 e a depressão decaiu. Nas primeiras semanas elas apresentaram queixas relacionadas ao trabalho, aos estudos, ao ambiente familiar e a privação de liberdade. Discurso esse que foi apresentando mudanças, com relação a melhoras do estado de humor, frente às estratégias e manejos sugeridos por nós da Psicologia e criados por elas mesmas. Além disso, elas relataram redução da ansiedade e autocobrança, e também melhora na concentração e na consciência corporal.
Tais resultados foram alcançados em decorrência das intervenções realizadas. As técnicas de respiração, por exemplo, possibilitam o treino e melhor controle da respiração, o que é fundamental para alcançar o relaxamento, controlar a ansiedade e diminuir a tensão muscular (Weinberg & Gould, 2016). Isso pode ser observado com a queda na pontuação da confusão e da raiva no decorrer do processo.
Junto a isso o mindfulness é uma técnica que focaliza a atenção no momento presente, fazendo com que o indivíduo não esteja no passado ou no futuro. Fazendo com que o indivíduo tenha maior energia, clareza mental e alegria (Germer, Siegel & Fulton, 2015). Isso pode ser observado tanto no discurso das aquelas, quando relataram estar mais tranquilas e felizes com a semana, como também pode ser observado nos resultados do BRAMS, que apresentaram diminuição da confusão no decorrer do processo e aumento do vigor.
Além dos efeitos do mindfulness nos estados de humor de confusão e vigor, o EM, uma técnica comportamental, que permite melhor orientação e aumento da motivação. Isso porque ela permite a visão de todo o processo que será realizado, além de possibilitar maior fidelidade com o processo (Weinberg & Gould, 2016). A atividade do EM teve como principal objetivo a criação de uma rotina para as atletas. Elas se engajaram na atividade e pediam a ajuda da CT para o planejamento da mesma. Como dito anteriormente, focamos no EM esportivo, mas algumas atletas também relataram terem feito o EM nos demais âmbitos (profissional/escolar, social e entretenimento/hobby) e os feedbacks foram positivos, pois segundo elas, organizaram melhor sua rotina e se sentiram mais produtivas. Além disso, mediante o relato das atletas, outras melhoras foram observadas, tais como a conexão e o relacionamento intra-time. Atletas que já estavam na equipe há mais tempo mantiveram o contato e as atletas que haviam entrado esse ano puderam se aproximar mais das demais colegas de equipe.
Corroborando com os dados apresentados por meio das tabelas na seção dos resultados, e por meio dos relatos das atletas, concluímos que houve melhoras significativas quanto a organização da rotina, redução da ansiedade e autocobrança e melhora na concentração e na consciência corporal. Notou-se também diminuição no estado depressivo, menor oscilação de humor, logo, percebe-se uma melhora na saúde mental das mesmas, bem como a melhora no relacionamento intra-time. O que favorece a conquista dos objetivos propostos por nosso trabalho, de manejar e monitorar o estado de humor das atletas neste período de isolamento social.
É nossa responsabilidade enquanto profissão componente da área de saúde, pensar em formas, meios, métodos e/ou técnicas que auxiliem no processo de manejo comportamental. No que tange à Psicologia do Esporte especificamente, torna-se ainda mais relevante, já que atletas com níveis muitos altos e descontrolados de ansiedade e autocobrança tendem a ficar desmotivadas e mais propensas a desistir de praticar a modalidade.
Bem como, é relevante não somente em caráter prático, mas também em âmbito acadêmico e empírico, tendo em vista a importância de produzir cada vez mais conhecimentos por meio da realização de pesquisas, e relatos de experiências, em prol da evolução da área da Psicologia do Esporte e do Exercício como um todo, mas principalmente como ciência e profissão.
Como limitações dos nossos estudos, encontram -se as dificuldades em quantificar e apresentar os dados relacionados às oscilações de humor, e ao manejo de ansiedade de das atletas modo mais concreto, tendo em vista a relevância de destacar as crescentes evoluções que avaliamos neste quesito.
Como sugestão para próximos trabalhos tanto teóricos quanto práticos, em contextos de adaptação tal qual de um isolamento social, que os profissionais possam desenvolver um protocolo do registro mais objetivo quanto às intervenções aplicadas, que demandem de feedback das atletas, para que assim os resultados possam tornar-se ainda mais concretos e fidedignos.
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