Revista CadernoS de PsicologiaS

Bem-estar subjetivo: relato de experiência de estágio em tempos de pandemia

Jaqueline Puquevis de Souza
Centro Universitário Uniguairacá

Psicóloga (CRP-08/8486). E-mail: jaquepuquevis@yahoo.com.br
Cristina Costa Lobo
Centro Universitário Uniguairacá

E-mail: ccostalobo@gmail.com
Amanda Caroline Ribeiro
Centro Universitário Uniguairac

E-mail: ribeiroamanda@outlook.com.br
Nivaldo da Silva
Centro Universitário Uniguairacá

E-mail: nivaldosvd@yahoo.com.br
Rosangela Abreu do Prado Wolf
Centro Universitário Uniguairacá

E-mail: rosangelaabreupw@gmail.com
#Relatos_de_Experiência

Resumo: Este artigo busca descrever uma nova configuração de experiência de estágio profissional do curso de Psicologia em tempos de pandemia. Foram identificadas algumas necessidades de acadêmicos de diversos cursos de um centro universitário, por meio de relatos enviados para a orientadora.  Dentre as demandas mais evidentes estavam a ansiedade em meio a adaptação ao isolamento e dúvidas em relação a como manter o bem-estar neste período. Diante desta realidade, o grupo de estágio, propôs um curso básico de bem-estar na ótica da psicologia positiva, online e sincrônico, com intuito de contribuir socialmente neste período inusitado junto aos discentes da instituição. A metodologia utilizada para este artigo foi o relato de experiência. Pode-se perceber com este estágio a aquisição de algumas habilidades e competências necessárias para profissão do psicólogo como autonomia, aprendizagem de novas ferramentas, trabalho de grupo, criatividade e escuta ativa, mesmo de modo virtual.

Palavras-chave: bem-estar; pandemia; estágio profissional.

Subjective well-being: report of internship experience in times of pandemic

Abstract: This article seeks to describe a new configuration of professional internship experience in the Psychology course in times of pandemic. Some needs of academics from different courses at a university center were identified, through reports sent to the advisor. Among the most evident demands were anxiety amid adaptation to isolation and doubts about how to maintain well-being in this period. In view of this reality, the internship group proposed a basic well-being course from the perspective of positive psychology, online and synchronous, in order to contribute socially in this unusual period with the students of the institution. The methodology used for this article was the experience report. With this stage, it is possible to perceive the acquisition of some skills and competences necessary for the psychologist’s profession, such as autonomy, learning new tools, group work, creativity and active listening, even in a virtual way.

Keywords: well-being; pandemic; professional internship.

Bienestar subjetivo: informe de experiencia en pasantías en tiempos de pandemia

Resumen: Este artículo busca describir una nueva configuración de la experiencia de prácticas profesionales en el curso de Psicología en tiempos de pandemia. Se identificaron algunas necesidades de académicos de diferentes cursos en un centro universitario, mediante informes enviados al asesor. Entre las demandas más evidentes se encuentran la ansiedad ante la adaptación al aislamiento y las dudas sobre cómo mantener el bienestar en este período. Ante esta realidad, el grupo de prácticas propuso un curso básico de bienestar desde la perspectiva de la psicología positiva, en línea y sincrónica, con el fin de contribuir socialmente en este período insólito con los estudiantes de la institución. La metodología utilizada para este artículo fue el relato de experiencia. Con esta etapa, es posible percibir la adquisición de algunas habilidades y competencias necesarias para la profesión del psicólogo, como la autonomía, el aprendizaje de nuevas herramientas, el trabajo en grupo, la creatividad y la escucha activa, incluso de forma virtual.

Palabras clave: bienestar; pandemia; prácticas.

Com a pandemia do COVID 19 que assolou o país no ano de 2020, as instituições de ensino superior do estado do Paraná, tiveram suas atividades interrompidas presencialmente no mês de março, com intuito de proteger alunos e professores e evitar a propagação do vírus. Com esta nova configuração, os grupos de estágio profissional adequaram suas práticas, para concluir o semestre e novas possibilidades de intervenções junto à comunidade foram pensadas.

Diante de uma realidade incerta que gerou estranhamento nas diversas faixas etárias da população, foram observados pelos relatos dos alunos de vários cursos de um Centro Universitário em uma cidade do centro oeste do Paraná, uma certa ansiedade em relação ao isolamento e a pandemia. Estes relatos chegaram à orientadora de um estágio em Psicologia por meio de mensagens e ligações, encaminhadas pelos próprios alunos e por uma central de apoio ao estudante oferecida pela própria instituição. Foi proposto pela professora orientadora a um grupo de estágio profissional II, o desenvolvimento de um projeto de forma não presencial, mas sincrônica, com supervisões semanais dos alunos responsáveis pelo projeto, que pudesse contribuir socialmente com a comunidade acadêmica, em um momento tão inusitado.

Por meio de um levantamento bibliográfico e identificação das possibilidades dos recursos disponíveis pela comunidade acadêmica, foi proposto um curso online ministrado de forma sincrônica, denominado “Bem-estar Subjetivo: nossas emoções na ótica da Psicologia Positiva”, oferecido para estudantes da instituição. 

A escolha da Psicologia Positiva como embasamento científico ocorreu, pois em muitos momentos a Psicologia tradicional esteve focada em tratar as doenças da mente e esta corrente, segundo Rashid e Seligman (2018), enfoca a importância dos aspectos positivos como bem-estar psicológico, satisfação com a vida, a paz e prazer.

O objetivo principal deste projeto foi ensinar algumas bases teóricas e práticas aos alunos, fornecendo ferramentas de apoio para manutenção de bem-estar no período de isolamento.  Participaram das intervenções deste programa quarenta (40) alunos de diversas graduações, durante quatro semanas (4) de encontros sincrônicos e quatro atividades individuais teórico-práticas. As atividades conduzidas pelo grupo de estágio do curso de Psicologia tiveram a parceria do projeto de extensão Centro de Investigação e Intervenção em Desporto, Educação e Bem-Estar (CIIDEBE) do mesmo centro universitário.

A Psicologia Positiva

Em 1998, o psicólogo Martin Seligman assumiu a presidência da American Psychological Association (APA)[1] e observou a indiferença da ciência psicológica para com os aspectos virtuosos dos indivíduos. Pensando em propor estratégias que pudessem trabalhar não apenas a doença, mas com enfoque nas forças do indivíduo, desenvolve a Psicologia Positiva.

A Psicologia Positiva apresenta reflexões sobre temas como a compreensão da felicidade e do bem-estar-subjetivo, propondo ainda o entendimento do sentido, relacionamentos positivos, realização, engajamento e todos os fatores que possam contribuir com uma vida saudável e com aumento de bem-estar (Seligman, 2017).

Mesmo tendo enfoque nos aspectos positivos e virtuosos do ser humano, a Psicologia Positiva não deixa de ver os momentos difíceis e dolorosos. Diante desta realidade, algumas de suas construções buscam auxiliar em práticas que contribuam de forma positiva para manutenção da saúde mental. Dentre estes conceitos, esta ciência enfoca ainda discussões sobre resiliência, autocompaixão, criatividade e esperança (Seligman, 2017).

Felicidade e Bem-Estar Subjetivo

A Psicologia Positiva busca a compreensão da felicidade e do bem-estar -subjetivo e propõe reflexões sobre o sentido, relacionamentos positivos e a realização, fatores que podem auxiliar em uma vida feliz e com bem-estar. Ressaltando a subjetividade do ser humano, cada indivíduo encontrará suas formas de bem-estar e felicidade, mas nunca como único fim.

O bem-estar subjetivo é constituído por dois fatores, o cognitivo (satisfação de vida) e o emocional (afetos positivos e negativos), que definem o nível de felicidade percebida pelo próprio indivíduo (Diener et al., 2010). A satisfação com a vida pode se manifestar naquilo nos dá sentido e percebemos como bom, como família, amigos ou trabalho. Os afetos positivos são todas as emoções que vivenciamos de forma intensa e positiva e as negativas são emoções percebidas como ruins ou incomodam, por exemplo a raiva, tristeza e o medo (Watson & Clark, 1994).

A felicidade é um conceito extremamente subjetivo e atrelada ao bem-estar, ela  perpassa por algumas questões como uma vida com envolvimento, encontrados em sentidos percebidos nas relações com pessoas amadas, nas ações voltadas ao outro e no autocuidado. Ela é um exercício contínuo, alcançado por meio de uma prática cotidiana e tomada como uma decisão pessoal. Outro aspecto levantado é a influência da consciência da vida cotidiana e a gratidão pelos momentos presentes, devendo ser construída e não confundida com euforia ou alegria excessiva.  Não é constante e nem uma meta, mas algo a ser vivido nos pequenos momentos (Seligman, 2017).

Compreendemos que em tempos remotos aonde estamos tendo a oportunidade de parar, prestar atenção no cotidiano e buscarmos o autoconhecimento, passamos  a perceber que felicidade não é um ponto final, nem um projeto futuro, mas está nos detalhes às vezes não percebidos em nossos caminhos diários.

Autocompaixão

Outro conceito da Psicologia Positiva , definido por Neff (2013) é a autocompaixão, que envolve direcionar para si mesmo, o mesmo tipo de cuidado, bondade e compaixão transmitidas às pessoas queridas que estão sofrendo. Nesse sentido, autocompaixão está relacionada a uma atitude emocionalmente positiva direcionada a si próprio.

Segundo a mesma autora, a autocompaixão pode ser compreendida a partir de três elementos: bondade consigo (versus autocrítica severa), senso de humanidade (versus isolamento social) e atenção plena (versus superidentificação). A bondade refere-se a ser gentil e compreensivo consigo mesmo em situações de sofrimento e fracasso, em vez de ser severamente autocrítico; o senso de humanidade diz respeito a perceber as próprias experiências como parte da experiência humana mais ampla, em vez de vê-las como separadoras e isoladoras; a atenção plena, por sua vez, está relacionada a manter pensamentos e sentimentos dolorosos em consciência equilibrada, ao invés de se identificar demais com eles. (Neff, 2013).

A autocompaixão também está associada a resultados positivos em diferentes domínios, como afetos, padrões cognitivos, realizações e conexões sociais. Ela está cada vez mais está sendo investigada e relacionada a indicadores das escalas de autocompaixão aplicadas  nas pesquisas de  (Neff, 2003). A autora verificou-se que autocompaixão apresenta relações positivas e moderadas com autoestima e autoeficácia, o que indica que pessoas com escores mais elevados de autocompaixão também apresentam maior senso de autovalor e crença em suas capacidades de executar tarefas. Neff (2013) ainda faz menção a autocompaixão em relação a psicopatologias, pois há evidências de que ela amortece o impacto de eventos negativos, pois as pessoas autocompassivas parecem perceber os eventos negativos de maneira a reduzir seu impacto, além de que apresentam menores níveis de depressão, ansiedade e estresse.

Ela é elemento importante no enfrentamento de situações dolorosas que estão fora de nosso controle, pois as pessoas autocompassivas têm menor probabilidade de catastrofizar situações negativas, sentir ansiedade após um estressor e evitar tarefas desafiadoras por medo de fracassar. Com autocompaixão, por meio do exercício da bondade consigo, do senso de humanidade e da atenção plena, é possível assumir uma posição de cuidado, essencial para enfrentar períodos de crise (Neff, 2013).

Resiliência

A percepção de resiliência é utilizada tanto pela física quanto pela engenharia há bastante tempo, podendo ser percebida como a capacidade de um material em sofrer energia de deformação sem sofrer uma deformação permanente. Aplicada a Psicologia, o estudo deste  fenômeno é recente (Yunes, 2003).

Inicialmente o conceito de indivíduo resiliente era atribuído às pessoas capazes de sobreviverem a grandes situações de estresse, sem apresentar danos definitivos em sua saúde emocional ou competência cognitiva. Atualmente essa definição ainda abrange as dimensões atentas as condições sociais (Noronha et. al 2009).

Resiliência é um conceito complexo e amplo que abrange diversos contextos. Umas destas conceituações é que resiliência pode ser vista como o conjunto de desenvolvimentos tanto sociais quanto subjetivos que auxiliam em uma vida sadia, mesmo em ambientes adversos. Uma pessoa resiliente não nasce com esse atributo, mas a desenvolve num processo com o meio no qual está inserida. Ocorre também uma variação individual em respostas aos momentos de risco, ou seja, a resiliência não é um atributo fixo no sujeito (Noronha et al. 2009).

Existem diferentes estratégias que podem auxiliar um indivíduo a ser resiliente, ou fazer com que ele a desenvolva. Alguns comportamentos seriam: manter-se flexível para adaptação nos diversos ciclos vitais; aprender os pontos positivos com momentos difíceis para desenvolvimento pessoal; buscar resolver problemas da melhor maneira ao invés do foco no negativo, manter-se conectado com familiares e amigos  como apoio; buscar  alternativas para amenizar tensão, como: diários, meditação, canto, dança, terapia; hábitos saudáveis, atividade física,  boa alimentação; olhar positivo diante da vida. (Pimenta, 2018).

Criatividade

A psicologia Positiva aponta algumas formas, para vencer momentos adversos e uma delas é a criatividade. A criatividade é algo intrínseco ao ser humano e os processos criativos são meios de sobrevivência humana. Criar e viver se interligam, tornando-se uma força e fonte de saúde mental. Estratégias criativas podem ser desenvolvidas com indivíduos de diferentes faixas etárias, visando desenvolver potencial criativo, seja com objetivos artísticos, educacionais, profissionais ou pessoais.

Segundo o dicionário Aurélio (2018), criatividade é definida como a capacidade de criar, de inventar;  qualidade de quem tem ideias originais, que é criativo; capacidade que o falante de uma língua tem de criar novos enunciados sem que tenham, visto ou ouvido anteriormente. Ostrower (2001), define criatividade como algo intrínseco ao ser humano e que os processos criativos são meios de sobrevivência humana, “de fato, criar e viver se interligam”.

Segundo Rogers (2001), a presença de produtos novos e originais é condição para definir o indivíduo criativo e destaca que são características de personalidades criativas: a flexibilidade; maior abertura às próprias experiências; menor número de defesas psicológicas.

Rogers (2001) estabelece três condições interiores ao indivíduo que estão associadas às potencialidades construtivas do ato criador: abertura a experiências; um centro interior de avaliação; capacidade para lidar com elementos e conceitos.

Desta forma, a criatividade é uma conduta e pode ser desenvolvida. Pessoas são criativas por natureza, bastando aprimora, principalmente em momentos difíceis de solução de problemas e ao da investigação. O potencial criador muda de acordo com a idade e maturidade, estando também na dependência dos estímulos e oportunidades recebidos (Rogers, 2001).

Segundo Bueno (2015), em tempos sombrios, com discursos de ódio, de intolerância as ideias novas que divergem do convencional, perdem espaço. As pessoas estão perdendo a habilidade de dialogar, de conviver umas com as outras, seja na dimensão social, política, econômica ou familiar. Muitos indivíduos estão inflados por suas próprias convicções, carregando certezas absolutas para quase todas as questões e não suportam apontamentos contrários aos seus já estabelecidos, que destoam de suas crenças.

 É preciso que haja práticas educativas para o desenvolvimento do potencial criativo dos alunos, para que possam se tornar capazes de se adaptar e resolver conflitos com maior facilidade, evitando assim contextos de violência, gerando adultos com uma mente saudável e criativa (Bueno, 2015).

Método

A metodologia utilizada neste estudo foi a pesquisa-ação delineada por um relato de experiência (Gil, 2002). O autor relata que esse processo se constitui como uma experiência/observação dos participantes na resolução e intervenção de um problema coletivo. Nesse modelo de pesquisa, os participantes e pesquisadores estão envolvidos integral e ativamente no problema em questão.

A escolha por intervenções em grupo aconteceram, devido a demanda de vários alunos, que procuraram apoio trazida pela instiutição de ensino. Tratando de um grupo , que teve intuito instrumentalizar os estudantes para teoria e prática da psicologia positiva, como recurso no período de isolamento, o grupo online foi a possibilidade mais efetiva no início da pandemia.

As intervenções aconteceram sob a orientação e participação da professora de estágio durante quatro semanas, distribuídos em quatro encontros sincrônicos e quatro atividades teórico práticas, ocorridos no mês de junho de 2020, tendo a participação de um grupo de 30 alunos da graduação de um Centro Universitário. Foi realizada a divulgação do projeto por meio da página da instituição e as inscrições realizadas de forma gratuita e voluntária.

O espaço utilizado para as intervenções foi uma sala virtual na plataforma google meet,  e as atividades teórico-práticas disponibilizadas em um grupo no whatsapp. Inicialmente, os participantes foram informados sobre o programa e seus benefícios. Desde o primeiro contato, o grupo se mostrou aberto para as intervenções, relatando as dificuldades que enfrentavam neste momento de pandemia. Diante dessa realidade, foi realizado um levantamento em relação aos temas específicos para serem trabalhados, que foram: bem-estar e felicidade; autocompaixão, resiliência e criatividade.

Foram elaborados pelo grupo de estágio duas apostilas teóricas digitais. A primeira contemplou a explanação teórica dos encontros e a segunda as atividades práticas, que deveriam ser realizadas durante a semana que seguia a temática ministrada.

O grupo de estágio esteve composto de três (3) estagiários e uma orientadora, tendo a condução principal de cada encontro, sob a responsabilidade de um destes quatro (4) integrantes. Os encontros foram transmitidos sempre com a supervisão da orientadora, utilizando como recursos tecnológicos: slides, músicas e vídeos. Como instrumentos de reflexão dinâmicas utilizadas pela psicologia positiva e tarefas semanais a serem realizadas.

Resultados

Na sequência serão delineados os encontros realizados. Cada encontro contou com uma temática específica, uma explanação teórica, um exercício durante o encontro e uma atividade semanal proposta.

Primeiro encontro: bem-estar e felicidade

Fase inicial: foi realizado no dia 03 de junho de 2020 pela orientadora do projeto. Foi apresentado uma mesma figura com duas perspectivas diferentes: a) um prédio espelhado em dia nublado; b) o mesmo prédio em dia ensolarado, para que os participantes observassem as diferenças. Esta proposta iniciou a reflexão trazida pela Psicologia Positiva, que todos temos virtudes pessoais, que às vezes estão ofuscadas. Foram debatidos ainda os afetos positivos e negativos. 

Fase da discussão teórica: foram discutidos conceitos da psicologia positiva como: bem-estar subjetivo, Modelo PERMA (satisfação com a vida, emoções positivas, vida prazerosa, engajamento, flow e sentido/ propósito) forças de caráter e felicidade.

Fase atividades propostas: foram propostas algumas atividades pautadas na Psicologia Positiva, como a criação de uma pasta de emoções positivas, aonde são armazenadas músicas, filmes, momentos e planos que despertem bons sentimentos. O segundo exercício proposto, foi a criação de uma carta para si mesmo. Nesta carta todos os participantes deveriam imaginar-se aos 70 anos, e escrever na carta, quais os momentos mais especiais vividos. Como tarefa semanal, foi proposto a leitura da apostila que foi elaborada antes do curso, e disponibilizada aos participantes para a realização do teste “Forças de Caráter”.

Segundo encontro:  autocompaixão

Fase inicial: conduzido no dia 10 de junho de 2020 por uma das estagiárias do projeto. Foi apresentada uma definição de autocompaixão, elencando equilíbrio e o autocontrole como chave para desenvolvimento interno.

Fase da discussão teórica: Foi apresentado o conceito de autocompaixão e descrição de comportamentos para sua aquisição: prática de exercícios físicos, tempo para cultura (filmes, séries e livros), boa relação com os familiares e amigos, psicoterapia, dentre outros. Foram discutidos sobre os três elementos da autocompaixão: bondade consigo que envolve compreensão consigo mesmo em situações difíceis ao invés de ser autocrítico; senso de humanidade, que é se perceber numa experiência humana mais ampla e atenção plena, que está relacionada a percepção dos sentimentos dolorosos de uma maneira equilibrada sem se identificar demais com eles. 

Na fase de atividades propostas: Foram realizadas duas perguntas para reflexão dos participantes: 1- Que ideia você pode ter hoje de autocompaixão para contribuir com seu bem-estar no tempo presente? 2- Como você pode colocar isso em prática. Como tarefa semanal foi proposto duas atividades da psicologia positiva: carta de gratidão e saborear alguma atividade, como ver filme, estar com quem gosta, tomar um banho demorado, saborear uma refeição com a família.

Terceiro encontro: resiliência

Fase inicial:  realizado dia 17 de junho de 2020 por uma das estagiárias do projeto. A atividade foi iniciada com a explanação de resiliência e retomada das atividades da semana. 

Fase da discussão teórica: foram discutidos o conceito de resiliência e explanado sobre ferramentas para desenvolver a resiliência como: auto eficácia; autocontrole; autoconfiança; empatia; otimismo e flexibilidade mental.

Fase de atividades propostas: foi proposto aos participantes que refletissem e respondessem sobre os momentos em que eles exercitaram a resiliência e quais ações positivas estavam realizando durante a quarentena.   Durante a semana seguinte, foram propostas atividades da psicologia positiva de realizar boas ações com propósito, mesmo que por fontes virtuais: ligar para um colega, buscar fontes de apoio, realizar doações, empenho em algum projeto comunitário.

Quarto encontro: bem-estar e criatividade

Fase Inicial: realizado no dia 24 de junho de 2020 por um dos estagiários do projeto. Foram discutidos o conceito de criatividade, instigados pela pergunta inicial: você se considera uma pessoa criativa?

Fase da discussão teórica:  foi realizada a explanação do tema, apresentando o conceito de criatividade como algo necessário para a vida humana e seu desenvolvimento. Foi apresentado os mitos sobre criatividade e, demonstrando através de pesquisas, a criatividade como competência a ser desenvolvida. Também foram discutidas as sete características de pessoas criativas, que são: abertura às novas experiências; persistência; tolerância às ambiguidades; inconformismo; intuição; imaginação e otimismo.

Fase de atividades propostas: Foi solicitado aos participantes a busca de momentos criativos em situações difíceis realizados por eles. Num segundo momento, o grupo foi convidado a pensar sobre atos criativos que tiveram durante a quarentena, com discussão em plenário posteriormente. Como atividade semanal, foi proposto o controle e a prática de todas as discussões realizadas durante os quatro encontros, propostas na apostila de apoio.

Discussão

Este estágio buscou atender as recomendações do Conselho Federal de Psicologia, que publicou em 2020 as orientações em estágios para psicologia na pandemia (CFP, 2020). Uma das linhas de atuação consiste nos Processos de Intervenção e Promoção da Saúde e Bem-Estar, na qual esta prática se insere. As práticas “consistem na concentração em competências que garantam ações de caráter de promoção e prevenção, em nível individual e coletivo, voltadas à capacitação de indivíduos, grupos, instituições e comunidades para protegerem e promoverem a saúde e qualidade de vida” (CFP, 2020, p.36). Uma das orientações são ações de educação e promoção da saúde por meio das redes sociais das instituições, que podem acontecer no âmbito público ou privado. A escolha nos moldes online aconteceu, por ser uma proposta no início da pandemia, enquadrando-se nas práticas em cenário de educação remota emergencial.

Dentro desta modalidade, os resultados obtidos com este grupo para promoção de bem-estar de alunos de uma instituição do ensino superior, foram bastante positivos e evidenciados nas falas dos participantes, ao final de cada encontro. O curso contou com 40 inscritos, mas teve presença efetiva de 30 participantes durante os quatro (4) encontros.Os estágios oferecidos na instituição, já configuram propostas semelhantes, mas na formatação online na modalidade sincrônica aconteceu pela primeira vez, com resultados bastante expressivos, principalmente no desenvolvimento de habilidade e competências dos estagiários como: autonomia, comunicação, criatividade e trabalho em equipe. Bem como adesão de 30 alunos participantes, do primeiro ao último encontro.

Considerações finais

O cenário atual frente à pandemia trouxe novas possibilidades de atuação nos estágios profissionais em Psicologia e o desenvolvimento da criatividade para novos projetos de intervenção.  Professores e alunos buscaram juntos, possibilidades de superação deste momento tão difícil, com uma perspectiva positiva que vai de encontro com a abordagem da Psicologia Positiva, criando estratégias de continuidade com qualidade nas práticas dos estágios curriculares.

Como as supervisões semanais com os alunos responsáveis pelo projeto, aconteceram de forma não presencial, mas sincrônica, elas foram de grande importância para que os acadêmicos superassem suas dificuldades pessoais, vivenciadas no decorrer de todo o  período e pudessem desenvolver habilidades e competências necessárias para a efetivação do projeto. Durante as supervisões, o grupo estabeleceu muitas trocas de experiências e estes momentos foram fundamentais para compartilhar ansiedades, dúvidas e sugestões, o que propiciou reflexões sobre as nossas intervenções.

O curso de bem-estar, mesmo de forma não presencial, mas sincrônica, estabeleceu a identificação dos sujeitos com os estagiários e orientadora, enquanto sujeitos dotados de suas subjetividades, dificuldades e potencialidades específicas. Todos os participantes responderam de maneira positiva e extremamente participativa aos estímulos e atividades propostas nos encontros desenvolvidas, o que auxiliou de imediato a avaliação da validade das ações. 

Mesmo diante de um novo cenário, as ações desenvolvidas no estágio profissional em Psicologia no decorrer do primeiro semestre de 2020, puderam contribuir para formação diante de novas necessidades e possibilidades de atuação do Psicólogo, não apenas para a cura da doença, mas no que se refere a prevenção e promoção de saúde. A adaptação frente as novas necessidades do contexto mundial, também são competências imprescindíveis para formação da prática profissional em Psicologia.

Notas

[1] Rashid, T. (2019). Psicoterapia positiva: manual do terapeuta. Porto Alegre, RS: Artmed.

Referências

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Como citar esse texto

APA – Souza, J. P. de, Lobo, C. C., Ribeiro, A. C., Silva, N. da, & Wolf, R. A do P. (2020). Bem-estar subjetivo: relato de experiência de estágio em tempos de pandemia. CadernoS de PsicologiaS, 1. Recuperado de https://cadernosdepsicologias.crppr.org.br/bem-estar-subjetivo-relato-de-experiencia-de-estagio-em-tempos-de-pandemia.

ABNT – SOUZA, J. P. DE et al. Bem-estar subjetivo: relato de experiência de estágio em tempos de pandemia. CadernoS de PsicologiaS, Curitiba, n. 1, 2020. Disponível em: <https://cadernosdepsicologias.crppr.org.br/bem-estar-subjetivo-relato-de-experiencia-de-estagio-em-tempos-de-pandemia>. Acesso em: __/__/____.