#Inquietações_teóricas
Resumo: A Abordagem Centrada na Pessoa – ACP, foi desenvolvida por Rogers. A ideia central nos diz sobre a autenticidade, a aceitação incondicional e compreensão empática, como condições fundamentais para o processo de desenvolvimento humano. Na relação entre psicomotricista e indivíduo, considera-se a disponibilidade corpórea, o tempo, o espaço e os objetos. A forma autêntica em ser psicomotricista é fundamental neste processo. Isso se dá através da escuta qualificada e da empatia. Considerando que o objetivo da psicomotricidade é dar ênfase ao esquema corporal, a partir da experiência desta relação, o presente artigo foi escrito a partir de uma pesquisa bibliográfica, o que implicou no estudo e análise de publicações de livros e artigos científicos. Há indícios da ACP que fazem alusão a uma prática profissional ética, legítima e autêntica. Em síntese, o clima facilitador no processo de crescimento e desenvolvimento humano da ACP, é possível de se perceber na prática profissional em psicomotricidade.
Palavras-chave: Abordagem centrada na pessoa; psicomotricidade; prática profissional.
DEVELOPMENTS OF THE PERSON-CENTERED APPROACH (PCA) IN PROFESSIONAL PSYCHOMOTRICITY PRACTICE
Abstract: The Person-Centered Approach (PCA) was developed by Rogers. The central idea tells us about authenticity, unconditional acceptance and empathic understanding as fundamental conditions for the human development process. In the relationship between psychomotricity and individual, bodily availability, time, space, and objects are considered. A psychomotrist authentic way of being is fundamental in this process. This happens through qualified listening and empathy. Considering that the goal of psychomotricity is to emphasize the body schema, from the experience of this relationship, this article was written using bibliographic research, which implied the study and analysis of publications from books and scientific articles. There are indications that PCA alludes to an ethical, legitimate and authentic professional practice. In summary, the facilitating ambiance in the process of human growth and development of ACP is possible to perceive in the professional practice of psychomotricity.
Keywords: Person-centered approach; psychomotricity; professional practice.
DESARROLLOS DEL ENFOQUE CENTRADO EN LA PERSONA (ECP) EN LA PRÁCTICA PROFESIONAL DE LA PSICOMOTRICIDAD
Resumen: El Enfoque Centrado en la Persona – ECP, fue desarrollado por Rogers. La idea central nos habla de la autenticidad, la aceptación incondicional y la comprensión empática como condiciones fundamentales del proceso de desarrollo humano. En la relación entre la psicomotricidad y el individuo, se consideran la disponibilidad corporal, el tiempo, el espacio y los objetos. La auténtica forma de ser psicomotriz es fundamental en este proceso. Esto ocurre a través de la escucha cualificada y la empatía. Considerando que el objetivo de la psicomotricidad es enfatizar el esquema corporal, a partir de la experiencia de esta relación, este artículo fue escrito a partir de una investigación bibliográfica, que implicó el estudio y análisis de publicaciones en libros y artículos científicos. Hay indicios en el ECP que aluden a una práctica profesional ética, legítima y auténtica. En resumen, es posible percibir el clima facilitador en el proceso de crecimiento y desarrollo humano del ECP en la práctica profesional en psicomotricidad.
Palabras clave: Enfoque centrado en la persona; psicomotricidad; práctica profesional.
A Abordagem Centrada na Pessoa – ACP, foi desenvolvida por Carl Ransom Rogers. Foi construída através do relacionamento terapêutico com seus clientes, ao considerar os aspectos conscientes do ser humano, ativo neste processo. Para Rogers, o ser humano percebe-se, reage, comporta-se e evolui através das relações interpessoais.
Em sua teoria, a autenticidade, a aceitação incondicional, e a compreensão empática são condições fundamentais para o processo de crescimento. As quais, segundo o autor, se aplicam nos mais diversos contextos, para além da relação terapeuta-cliente, nos mais diversos ambientes que tem como foco o desenvolvimento humano.
Sobre a relação entre psicomotricista e indivíduo, é importante considerar a disponibilidade corpórea como ferramenta essencial de trabalho para a psicomotricidade. Dessa maneira, o psicomotricista atua na interface saúde, educação e cultura.
A Associação Brasileira de Psicomotricidade (2020) considera o ser humano numa visão holística, de forma integrada em suas funções cognitivas, sócio-emocionais, simbólicas, psicolinguísticas e motoras. A partir disso, é possível olhar para a potencialidade do ser humano e sua capacidade de ser e agir num contexto psicossocial. O – a psicomotricista busca avaliar, prevenir e cuidar, ao se aproximar e investigar o indivíduo na relação com o seu ambiente e processos de desenvolvimento, interface a saúde, educação e cultura.
A psicomotricidade como ciência, olha para as relações e influências sobre o psiquismo e o corpo, e, entre o psiquismo e a motricidade, emergentes da personalidade total, singular e evolutiva que caracteriza o ser humano, nas suas múltiplas e complexas manifestações biopsicossociais e, afetivo emocionais (Fonseca, 2010 p. 42).
A partir disso, este estudo bibliográfico teve como objetivo identificar como os conceitos primordiais da ACP podem contribuir efetivamente no cotidiano da prática profissional em psicomotricidade.
O presente artigo foi escrito a partir de uma pesquisa bibliográfica, que segundo Oliveira (2014 p. 69) “é uma modalidade de estudo e análise de documentos de domínio científico tais como livros, enciclopédias, periódicos, ensaios críticos, dicionários e artigos científicos”.
Utilizamos para construção deste estudo, fontes bibliográficas que tratam das temáticas – Abordagem Centrada na Pessoa – ACP e da Psicomotricidade.
Quanto a ACP, nos amparamos em cinco livros, sendo dois, publicados por Rogers: “Um jeito de ser” e “Tornar-se pessoa”. Nestas duas obras o autor traz vários artigos a respeito da sua experiência pessoal e clínica, entre os anos de 1951 e 1961. Estes materiais são considerados pela literatura da área como básicos e essenciais para o estudo da ACP, os quais, nos possibilitaram a refletir acerca dos conceitos de congruência, aceitação incondicional e, compreensão empática, desenvolvidos pelo autor e reconhecidos pela ciência no ano de 1947. Os demais livros são decorrentes das publicações do humanista.
Em relação a Psicomotricidade, os materiais consultados foram cinco Livros e quatro artigos, publicados por: Fonseca (1988), Mila (2012), Fernandes & Gutierres (2012), Gonçalves & Cavalari (2010), Martins & Messias (2017) e Gusi (2020). Os quais são tidos como leituras clássicas por especialistas da área.
As respectivas fontes subsidiaram nossa discussão conceitual a fim de responder nossa problemática central que trata dos desdobramentos da ACP na prática profissional do-da psicomotricista.
A ACP foi desenvolvida por Carl Ransom Rogers. Um dos maiores exponenciais da Teoria Humanista, sua teoria foi construída através do relacionamento terapêutico com seus clientes. Para ele, o ser humano percebe-se, reage, comporta-se e evolui através das relações interpessoais.
A ideia central da ACP diz que:
Os indivíduos possuem dentro de si vastos recursos para a autocompreensão e para modificação de seus autoconceitos, de suas atitudes e de seu comportamento autônomo. Esses recursos podem ser ativados se houver um clima, passível de definição, de atitudes psicológicas facilitadoras. Há três condições que devem estar presentes para que se crie um clima facilitador de crescimento (Rogers, 1987, p. 45).
A autenticidade, a aceitação incondicional, e a compreensão empática dizem sobre estas condições fundamentais para o processo de crescimento. Tais condições, segundo o autor, se aplicam nos mais diversos contextos, para além da relação terapeuta-cliente, nos mais diversos ambientes que olham para o desenvolvimento humano.
Frente a estas condições de valor, o – a terapeuta acredita incondicionalmente na evolução do ser humano, a partir do processo de mudança, no campo da experiência. Parte-se do princípio que o ser humano utiliza de suas experiências pessoais para definir-se e relacionar-se com o outro.
Conforme Hall, Lindzey & Campbell (2008), durante este processo de crescimento, clientes tornam-se cada vez mais conscientes de seus sentimentos e experiências, e seu autoconceito se torna cada vez mais congruente com as experiências totais do organismo.
A semelhança entre o que o indivíduo pensa, acontece e percebe (tomando consciência) no campo da experiência é o que se denomina congruência. É definida como o grau de exatidão entre a experiência da comunicação e a tomada de consciência (Fadiman & Frager, 2002). Ou seja, ser congruente é ser real, autêntico. Ser o que realmente se é.
Na concepção de Rogers, a representação simbólica de nossa experiência, para além dos símbolos verbais, diz sobre o conceito de consciência. (Feist, Feist & Roberts, 2015). Ao assimilar este conceito, o teórico humanista enfatiza o campo fenomenal e o relacionamento interpessoal na construção de si, na proposta de comunicação e relacionamento interpessoal para o processo de crescimento e desenvolvimento humano.
Então, o self ou autoconceito diz sobre a percepção de si, baseado em experiências passadas, estimulações presentes e expectativas futuras. Como um processo de crescimento e contínuo reconhecimento e por isso, podem ocorrer modificações a todo momento.
Quando o organismo e o self percebido estão em harmonia, as duas tendências à atualização são quase idênticas; porém, quando as experiências do organismo não estão em harmonia com sua visão de self, existe uma discrepância entre a tendência à atualização e a tendência à auto realização (Feist, Feist & Roberts, 2015, p. 196).
Com relação a isso, Rogers (1997) traz a ideia de que há em cada indivíduo, essa tendência ao crescimento. No entanto, faz-se necessário condições apropriadas para que o indivíduo possa se expressar, expandir, estender, tornar-se autônomo, se desenvolver e amadurecer.
O self ideal refere-se ao que o indivíduo gostaria de ser. É móvel e está em constante redefinição, o que pode implicar em dificuldades quanto ao crescimento pessoal. Isso acontece quando a pessoa idealiza uma forma que gostaria de ser e, não dá atenção como se é. É como se a pessoa esquecesse ou ignorasse quem é. O self ideal diz muito sobre a saúde mental do indivíduo.
Quando as experiências simbolizadas que constituem o self espelham fielmente as experiências do organismo, dizemos que a pessoa é ajustada, madura e funciona de modo completo. Essa pessoa aceita toda a variedade de experiências organísmicas sem ameaça ou ansiedade. Ela é capaz de pensar realisticamente. (Hall, Lindzey & Campbell, 2008, p. 369).
Com isso, o self e o organismo de forma congruente no campo experimental implicam nas ações do indivíduo, no qual através da interação com o ambiente oferecem condições para um relacionamento interpessoal com a figura do terapeuta. É um relacionamento pessoa com pessoa e não, pessoa com terapeuta.
Sobretudo, o crescimento psicológico implica em forças positivas naturais voltadas à saúde. O indivíduo tem a capacidade de experienciar e tomar consciência de seus ajustamentos, no qual há uma tendência de autoconceito para adaptar-se à realidade de forma consciente, pontuando a aceitação de si próprio.
A seguir serão apresentados os dados qualitativos, extraídos do estudo bibliográfico a respeito da ACP e as possíveis contribuições com a prática em psicomotricidade, a partir de um recorte sobre condições fundamentais apresentadas por Rogers, durante o processo de desenvolvimento humano. Para tal, buscou-se explorar os conceitos fundamentais inerentes a esta Teoria, através de materiais publicados em livros, periódicos e artigos científicos, conforme aponta o quadro abaixo.
Ao olharmos para a prática do – da psicomotricista, Gusi (2019) nos traz uma ideia à conduta profissional, considerando a postura do psicomotricista a partir de uma posição empática, de aceitação, de espera e de compreensão daquilo que a criança e/ou adulto faz ou deseja fazer, ajudando na percepção de si e na tomada de consciência.
Esta ideia aproxima-se dos fundamentos essenciais da ACP, se pensarmos o campo da experiência da comunicação (setting) e a percepção de si (objetivo da terapia psicomotora). Para Gusi (2019), a aceitação incondicional do indivíduo conduz todo o trabalho. A partir do momento em que se valorizam as capacidades possíveis, ampliam-se as possibilidades de superar as demandas que apresentam dificuldades.
Verifica-se a partir desta perspectiva, psicomotricistas como mediadores na promoção de mudanças construtivas para o desenvolvimento humano, possível de observação a partir da relação pessoa com pessoa. Conforme Rogers (1997), uma maior autocompreensão, uma maior autoconfiança e uma maior capacidade de escolhas podem surgir através deste processo de comunicação e relação interpessoal.
Ao encontro disso, Gusi (2020, p. 25) nos mostra que “a prática psicomotora fortalece um espaço de confiança, em que se valorizam a escuta, as superações, a credibilidade, a sintonia e o respeito aos limites de si e do outro, numa visão de globalidade, disponibilidade e desenvolvimento harmônico”.
De acordo com Fernandes & Gutierres (2012), a psicomotricidade pode e deve estar associada a diferentes práticas, conforme a necessidade da pessoa com quem o psicomotricista intervirá. Para isso se faz necessário considerar as diferentes áreas de conhecimento que a fundamentam. Nesse sentido, não há diferentes psicomotricidades. Há práticas psicomotoras que utilizam diferentes abordagens e mediações corporais. Então, não parece correto falar de psicomotricidade relacional, instrumental, funcional, ou qualquer outro gênero de psicomotricidade, mas, e apenas, de psicomotricidade” (Fernandes & Gutierres, 2012, p. 4). Dito isto, a psicomotricidade
Como ciência, é entendida como o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências recíprocas e sistêmicas, entre o psiquismo e o corpo, e, entre o psiquismo e a motricidade, emergentes da personalidade total, singular e evolutiva que caracteriza o ser humano, nas suas múltiplas e complexas manifestações biopsicossociais e, afetivo emocionais (Fonseca, 2010 p. 42).
Há o entendimento que a psicomotricidade está associada à afetividade e a personalidade, na qual o ser humano utiliza seu corpo para demonstrar o que sente através de uma expressão significativa, já que se traduz em solidariedade profunda e original, entre o pensamento e a atividade motora.
Para Fonseca (1988), a psicomotricidade é um meio inesgotável de afinamento perceptivo-motor que põe em jogo a complexidade dos processos mentais, fundamentais para a polivalência preventiva e terapêutica no processo de ensino aprendizagem. Isso faz pensar que os construtos da ACP se mostram também no âmbito escolar, durante o processo de ensino aprendizagem, como fundamentado por Rogers em sua teoria.
Na área educacional, a psicomotricidade tem uma visão intimamente associada quanto a formação do professor e o desenvolvimento pessoal (Gusi, 2019). Nesse sentido, a formação continuada possibilita um olhar atento às condições de comunicação e relacionamento interpessoal. Investir na formação do corpo docente implica em olhar para o processo de autoconhecimento. Sendo assim, quanto mais o professor ouvir e aceitar o que se passa em si mesmo, quanto maior a sua capacidade de assumir a complexidade dos seus sentimentos, sem receio, maior será o seu grau de congruência (Rogers, 1997).
Para Fonseca (2008 apud Gusi, 2019 p. 58) a imagem do corpo é a tomada de consciência do corpo a partir do vivenciado. Isso se dá por meio dos elementos sinestésicos, visuais, vestibulares, táteis, libidinais e sociais. Para Mila (2012), estes elementos são identificados na expressividade psicomotriz. Desse modo, o esquema corporal é o elemento básico psicomotor essencial para o desenvolvimento, dentre outros: lateralidade, estruturação espacial e organização temporal.
Na relação terapêutica fundamentada pela ACP, o indivíduo é capaz de aceitar de forma consciente, sentimentos e experiências que geralmente seriam reprimidos ou negados. Isso se dá a partir do momento em que o indivíduo passa pela experiência e assim, passa a se perceber – tomar consciência. Consequentemente, se reorganiza quanto ao seu autoconceito. “A sua autoimagem torna-se, nesse momento, uma representação mais adequada da totalidade da sua experiência” (Rogers, 1997 p. 272). Esta relação é possível a partir do estabelecimento do vínculo e da relação de confiança durante o processo terapêutico.
Ao olharmos para o – a terapeuta – psicomotricista temos o corpo como seu instrumento de trabalho, na relação com o outro. Para que este trabalho faça sentido, algumas competências são essenciais. Para Mila (2002 apud Fernandes & Gutierres, 2012), a escuta qualificada, disponibilidade corpórea, percepção de si e do outro e a criatividade são fundamentais nas mais diversas formas de atuação no campo da psicomotricidade.
Sobre estas competências, a escuta ativa e sensível são extremamente raras em nossas vidas. “E, esse modo tão especial de ouvir é uma das forças motrizes mais poderosas que conheço” (Rogers, 1987, p. 46). Para o autor, a escuta empática dá a entender um genuíno interesse sobre as pessoas, sobre relacionar-se verdadeiramente com elas.
Segundo Rogers (1987) a escuta empática tem a ver com uma escuta profunda, e isso quer dizer na visão do autor uma escuta que permite ouvir além das palavras, pensamentos, até mesmo a tonalidade desses sentimentos, seu significado pessoal e suas intenções. Pensar a expressão corporal na psicomotricidade nas mais diversas formas, seja pela voz, pelo toque, olfato ou pelo olhar, tem a ver com o que o humanista nos convida a refletir, a partir de sua teoria.
A respeito da formação do – da psicomotricista, importa saber que é um processo contínuo. Ao encontro do que a ACP propõe, ser verdadeiro, aproximar-se e entrar em contato, com o que quer que esteja se passando com o indivíduo é desafiador. Saber realmente o que se passa dentro de si não é nada simples, nenhum de nós jamais estará totalmente apto a entrar em contato, sem dificuldades, com o que está acontecendo em meio a nossa própria experiência. É uma tarefa para toda a vida a busca pelo autoconhecimento (Rogers, 1987).
Nessa perspectiva, o corpo na relação, assim como a disponibilidade corpórea, a gestão emocional, a articulação prática e a articulação teórica, estruturam a formação do – da psicomotricista. “Não pode haver mais nenhuma dúvida de que tudo o que chamamos corpo traz em si uma luta para se tornar um todo” (Rogers, 1987 p. 44). Dada a importância e o cuidado do corpo como “um instrumento privilegiado de intervenção em psicomotricidade, mas que é um corpo que tem uma história, que padeceu sofrimentos, que recebeu prazer e que deverá ter disponibilidade para o trabalho com o outro” (Fernandes & Gutierres, 2012, p. 126).
Nesse sentido, a gestão emocional exige do – da psicomotricista a tomada de consciência e o manejo das próprias emoções. A percepção de si e os conflitos interpessoais tendem a exigir uma disponibilidade incondicional nesta relação terapêutica. Saber decodificar o corpo do outro e ser assertivo nas intervenções mostra a congruência de ambos – psicomotricista e indivíduo.
A respeito disso, “Quanto mais tento ouvir-me e estar atento ao que experimento no meu íntimo, quanto mais procuro ampliar essa mesma atitude de escuta para os outros, maior respeito sinto pelos complexos processos da vida” (Rogers, 1997, p. 23). Então, a formação do psicomotricista não deve e não pode acabar jamais, deve compreender um processo contínuo” (Fernandes & Gutierres, 2012, p. 124), ter uma estrutura de formação teórica, prática-profissional, corporal (específica), supervisão e processo psicoterapêutico.
Sendo assim, a articulação prática e articulação teórica estão interligadas, durante o processo de formação do – da psicomotricista. A articulação prática permite transferir e associar o processo de transformação pessoal à prática profissional, e a articulação teórica diz sobre as diferentes áreas de conhecimento que fundamentam a psicomotricidade. Com base nesta compreensão, o conhecimento sobre determinado assunto não é o mais importante (Rogers, 1987). A ACP considera o conhecimento mais vivido como o mais importante dos conhecimentos, um conhecimento mais visceral e mais próprio ao ser humano. Dessa forma, neste nível de conhecimento, é dada a atenção àquilo que envolve o indivíduo por inteiro, de forma holística, nas suas experiências organísmicas.
A ACP, acredita no desenvolvimento humano a partir do processo de comunicação e relações interpessoais, nos mais diversos espaços e ambientes. A psicomotricidade, por sua vez, considera o indivíduo na relação com o seu ambiente e processos de desenvolvimento, interface a saúde, educação e cultura.
Ao iniciar os estudos, houve o entendimento que a ACP e a psicomotricidade podem se encontrar nesta relação humana. Nesse sentido, foi possível fazer a leitura de que a ACP pode contribuir com a prática profissional em psicomotricidade, de diversas formas. Do mesmo modo, há muitas possibilidades de atuação. Para isso, cada profissional pode e deve buscar pela sua forma, própria e autêntica de ser psicomotricista.
Ficou evidente neste estudo a importância da formação continuada para o – a profissional psicomotricista, sobretudo, no que se refere a formação pessoal. Percebeu-se também que a ACP traz formas possíveis de contribuir neste processo de crescimento do – da profissional.
Considerar os construtos para a prática psicomotricista e apreender os conceitos fundamentais da ACP foi o que permeou este estudo e, frente a isso, foi desafiador responder à proposta deste trabalho. Há o entendimento de que este é o início do estudo, relacionando a ACP com a psicomotricidade. Dessa forma, sugere-se avançar a pesquisa e envolver profissionais da área.
Outro ponto de vista em relação ao estudo tem a ver com a escassez de materiais publicados sobre a prática em psicomotricidade relacionados a perspectiva da proposta aqui apresentada, e isso torna-se um motivador para a estudante na busca de novos aprendizados.
Sendo assim, há indícios da ACP que fazem alusão à compreensão de uma prática profissional em psicomotricidade ética, legítima, e autêntica, o que pôde ser visto ao compor este estudo.
Em síntese, a congruência do – da terapeuta – psicomotricista, a aceitação incondicional e a compreensão empática na relação terapêutica indicam um clima facilitador no processo de crescimento e desenvolvimento humano. Da mesma forma, aceitar a si próprio, seu corpo – e a sua história, assim como, aceitar o corpo do outro, de forma genuína, mostra um caminho possível para a tomada de consciência do indivíduo, através da experiência, na relação com o outro, sendo este o objetivo maior da psicomotricidade.
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