#Relatos_de_experiência
Resumo: O objetivo deste estudo é trazer relatos da experiência de estágio profissionalizante em saúde mental, realizado em uma Unidade Básica de Saúde na cidade de Maringá-PR. O estágio consistiu em um conjunto de intervenções que tinham como público alvo cuidadores, crianças e adolescentes que vivenciavam os efeitos da pandemia sobre o desenvolvimento infanto-juvenil. Os aspectos percebidos durante os acolhimentos realizados aos pacientes que aguardavam atendimento da psiquiatria nos mostraram pontos importantes influenciados pela pandemia da COVID-19. Entre eles, o prejuízo no desenvolvimento infanto-juvenil, o aumento do uso de telas, a privação do contato social e a adaptação às novas rotinas foram percebidos durante a escuta oferecida aos usuários da UBS. Dessa forma, junto com as pesquisas bibliográficas realizadas, foi possível analisar os impactos negativos da pandemia nos cuidadores, crianças e adolescentes. A intervenção realizada na Unidade Básica de Saúde se justifica pela necessidade de oferecer um espaço seguro e acolhedor para os pacientes alvos de nossa intervenção, possibilitando ações no campo da promoção da saúde.
Palavras-chave: desenvolvimento infanto-juvenil; Covid-19; promoção da saúde.
INTERVENTION IN A BASIC HEALTH UNIT IN MARINGÁ-PR: REPORT OF AN INTERNSHIP EXPERIENCE FOCUSING ON CHILD-JUVENILE DEVELOPMENT IN THE PANDEMIC
Abstract: The objective of the study is to bring reports of the experience of professional training in mental health, held in a Basic Health Unit in the city of Maringá-PR. The internship consists of a set of resources whose target audience is caregivers, children and adolescents who were experiencing the effects of the pandemic on child and youth development. The aspects perceived during the receptions carried out to patients who were waiting for psychiatric care at important points influenced by the COVID-19 pandemic. Among them, the impairment of children’s and youth development, the increased use of screens, the deprivation of social contact and the adaptation to new routines were noticed during the listening offered to UBS users. Thus, together with the bibliographic research carried out, it was possible to analyze the negative impacts of the pandemic on caregivers, children and adolescents. The intervention carried out at the Basic Health Unit is justified by the need to offer a safe and welcoming space for the patients targeted by our intervention, enabling actions in the field of health promotion.
Keywords: child and youth development; Covid-19; health promotion.
INTERVENCIÓN EN UNA UNIDAD BÁSICA DE SALUD EN MARINGÁ-PR: INFORME DE UNA EXPERIENCIA DE PASANTÍA CENTRADA EN EL DESARROLLO NIÑO-JUVENIL EN LA PANDEMIA
Resumen: El objetivo de este estudio es traer relatos de la experiencia de formación profesional en salud mental, realizada en una Unidad Básica de Salud de la ciudad de Maringá-PR. La pasantía consistió en un conjunto de intervenciones dirigidas a cuidadores, niños y adolescentes que estaban experimentando los efectos de la pandemia en el desarrollo infantil y juvenil. Los aspectos percibidos durante las recepciones dadas a los pacientes que estaban en espera de atención psiquiátrica nos mostraron puntos importantes influenciados por la pandemia COVID-19. Entre ellos, durante la escucha ofrecida a los usuarios de UBS se notó el deterioro del desarrollo infantil y juvenil, el mayor uso de pantallas, la privación del contacto social y la adaptación a nuevas rutinas. Así, junto con la investigación bibliográfica realizada, fue posible analizar los impactos negativos de la pandemia en cuidadores, niños y adolescentes. La intervención realizada en la Unidad Básica de Salud se justifica por la necesidad de ofrecer un espacio seguro y acogedor para los pacientes a los que se dirige nuestra intervención, posibilitando actuaciones en el ámbito de la promoción de la salud.
Palabras clave: desarrollo infantil y juvenil; Covid-19; promoción de la salud.
O
primeiro acesso que a população tem ao Sistema de Saúde é através da Atenção Básica. Entre as diversas demandas da saúde, os cuidados com a saúde mental adquiriram um importante espaço na Atenção Primária. Esse cuidado é considerado estratégico para que seja de fácil acesso aos usuários e às equipes (Brasil, 2013).
O Sistema Único de Saúde proporciona aos seus usuários um cuidado integral e constante. Dessa forma, são acompanhados a partir do nascimento e continuando ao longo de todo o ciclo de vida, colocando em ação o princípio da integralidade, o SUS preconiza que profissionais estejam preparados para atender todas as demandas da população, em todo seu ciclo de vida (PROADI-SUS, 2019).
O desenvolvimento infantil, como parte essencial do desenvolvimento humano, implica a adoção de estratégias para promoção da saúde da criança fundamentais para compreender suas singularidades e as condições ambientais que a criança está inserida (Souza & Veríssimo, 2015). Segundo Linhares e Enumo (2020, apud Barroso & Machado, 2015), o contexto familiar corresponde ao cuidado parental dirigido à criança e engloba aspectos físicos, emocionais e sociais, com o objetivo de alcançar um desenvolvimento saudável das crianças. Esse cuidado pode ser caracterizado por “afetividade, reciprocidade, responsividade, calorosidade, encorajamento, ensino e comunicação positiva” (Linhares & Enumo, 2020, p. 4).
Devido à grave situação que vivenciamos desde 2020 com a pandemia da COVID-19, as crianças, apesar de serem menos afetadas fisicamente pelo novo Coronavírus, são afetadas em sua saúde mental. Em um contexto em que as crianças foram impossibilitadas de ir às escolas, creches, e tiveram suas atividades restritas, como aquelas de esportes e lazer, passaram então a enfrentar a situação do isolamento social e o distanciamento. Como efeito de tais restrições, começaram a desencadear estresses frequentes, medo, frustração, tédio, falta de contato com amigos e também a falta de privacidade em casa (Linhares & Enumo, 2020).
Juntamente ao desencadeamento de estresses e outros sintomas, as crianças vivenciam perdas ou dificuldades de aprendizagem e a perda do convívio com seus semelhantes, que possibilita experiências como o encontro com as diferenças, a resolução de conflitos, atividades que permitiam à criança a espera e o controle de seus impulsos. No Ensino Fundamental, as aulas remotas podem provocar o uso excessivo das telas, prejudicando o desenvolvimento e a saúde da criança (Linhares & Enumo, 2020).
Uma pesquisa desenvolvida pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (2021) para investigar o comportamento de pais e crianças durante a pandemia indicou que 27% dos participantes do estudo relataram regressão no comportamento das crianças, algo esperado diante do momento de tensão que elas e seus cuidadores estão vivenciando. Os sentimentos dos pais e cuidadores são indicadores importantes na construção deste projeto, visto que os mesmos também estão sofrendo consequências, como a mudança abrupta de suas rotinas com o fechamento das escolas e consequentemente o cansaço e a sobrecarga de trabalho (Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, 2021). Além disso, nem sempre há uma rede de apoio que permita o compartilhamento do cuidado das crianças. Essa situação é intensificada por outro ponto que vem afetando não só os cuidadores, mas todas as pessoas: o luto por seus entes queridos e as diferentes perdas vivenciadas no contexto da pandemia.
Tendo em vista tal contexto, este relato de experiência diz respeito à prática de estágio profissionalizante em saúde mental, do 5° ano de um curso de psicologia, realizado ao longo do ano de 2021 em uma Unidade Básica de Saúde na cidade de Maringá-PR. O estágio consistiu em um conjunto de intervenções que tinham como público alvo cuidadores, crianças e adolescentes que vivenciavam os efeitos da pandemia sobre o desenvolvimento infantil.
De acordo com Silva (2020), durante o período crítico da pandemia de Covid-19, nos meses de março a dezembro de 2020, 27% das crianças apresentaram regressão em seu comportamento, ou seja, voltaram a ter comportamentos de quando eram mais novas (Silva, 2020). Esse resultado é apresentado pelo autor como previsível, pois durante um momento de tensão é esperado que as crianças externalizem questões que vivenciam em seu contexto, como o luto e outras mudanças repentinas. Em tempos de estresse e sobrecarga, é comum o aumento de tensão nos pais e cuidadores e, com isso, situações como essas são mais frequentes (Silva, 2020).
A intervenção desenvolvida no período de estágio em saúde mental se justificou pela necessidade de promover auxílio e suporte aos cuidadores de crianças e adolescentes que frequentam a UBS, os quais muitas vezes se apresentam em sofrimento e não possuem uma rede de apoio. A intervenção ofereceu escuta e orientação, quando necessário, sobre o que esperar do desenvolvimento das crianças diante do cenário global.
A fim de contribuir para a prática do psicólogo na Atenção Básica de Saúde, o estágio em saúde mental foi realizado em uma Unidade Básica de Saúde com uma configuração peculiar: a mesma se localiza dentro de uma universidade particular, funcionando também como uma UBS escola, contando com diversas especialidades que atendem diferentes populações, já que não se restringe somente ao seu território. No que tange ao período de pandemia, foi pensado em uma intervenção voltada ao desenvolvimento infantil atravessado pelo período da COVID-19.
A prática de estágio consistiu em uma intervenção junto aos cuidadores de crianças e adolescentes atendidas pela Unidade Básica de Saúde. As intervenções foram realizadas em conjunto com a equipe da psiquiatria. Ainda, consistiu em fortalecer o trabalho interdisciplinar com outras áreas, trabalho no qual é visto como uma ação incomum devido à grande demanda e a falta de tempo dos profissionais (Davi, Domínguez, Araújo & Franco, 2016). Além disso, foi realizado o acompanhamento da psicóloga da unidade em atendimentos direcionados a pais e cuidadores.
Essa intervenção foi planejada ao perceber que as crianças e adolescentes atendidas na Unidade Básica estavam em sofrimento psíquico em decorrência da pandemia e seus cuidadores apresentando angústias e dúvidas em relação ao desenvolvimento das crianças durante esse período. Dessa forma, o objetivo da intervenção foi propor orientações, quando necessário, e escuta aos cuidadores que estavam aguardando consulta na Unidade Básica de Saúde, a fim de tratar sobre questões do desenvolvimento infanto-juvenil durante a pandemia.
A intervenção foi realizada por busca ativa das estagiárias pelos usuários que estavam aguardando a consulta na recepção, assim como pela solicitação da equipe da UBS após a divulgação do projeto, que recorria às estagiárias quando observada a necessidade de orientações ou acolhimento por questões relacionadas ao desenvolvimento das crianças e adolescentes.
Outra prática que nos possibilitou contribuir com a população da UBS em questão, foi o projeto de grupo terapêutico realizado de maneira remota, que teve como objetivo a escuta, o acolhimento e a exposição de informações necessárias aos cuidadores que haviam recebido diagnóstico de transtornos infantis ou do neurodesenvolvimento dos seus filhos. Esse projeto foi realizado em quatro encontros, no formato remoto, com frequência semanal durante o mês de outubro. O grupo foi divulgado pela Unidade Básica de Saúde e através das redes sociais.
Os acolhimentos realizados atendiam aos cuidadores, crianças e adolescentes e foram iniciados em conjunto com a equipe da psiquiatria dentro da Unidade Básica de Saúde com a proposta de oferecer escuta e assim contribuir com a promoção à saúde e proteção dos mesmos (Santos, Quintanilha & Dalbello-Araújo, 2010).
Com as intervenções, observamos atrasos no desenvolvimento infantil, referentes a aspectos cognitivos, como dificuldades na atenção e dificuldades voltadas ao âmbito social, como isolamento e mais tempo em tela, podendo ser causados pela ausência das aulas presenciais durante a pandemia, pelo aumento de acesso às telas de celulares e computadores e a diminuição de interações sociais. Com o retorno às aulas presenciais, crianças e adolescentes estão tendo dificuldades na aprendizagem e na convivência social (Almeida, Luz, Jung & Fossatti, 2021). Percebemos também o aumento da procura por pais e responsáveis de atendimentos psicológicos e psiquiátricos e dificuldades de acesso a esses atendimentos, devido às filas e consequente longo tempo de espera.
Nesse sentido, durante alguns acolhimentos ofertados às famílias, era relatada a busca frequente das mesmas por atendimentos psicológicos nas UBS dos respectivos territórios e o tempo longo de espera para o atendimento, assim como experiências mal sucedidas de atendimento psicológico nas UBS, como a não identificação com o profissional. Tais aspectos reforçam a necessidade do investimento nos atendimentos grupais que visem à promoção da saúde, consoante com a proposta da atenção básica, quando o formato individual e clínico que vigora ainda na prática psicológica é colocado em xeque pelas demandas do contexto.
Os acolhimentos mostraram ainda que o uso da tecnologia serviu como recurso diante das ansiedades sentidas pelas crianças e adolescentes, relatadas pelos cuidadores. Ao mesmo tempo que a tecnologia permite conexão com o mundo, também se apresenta como veículo para uma ameaça constante, pelo grande número de notícias sobre mortes causadas pelo vírus, além dos medos e inseguranças (Ponte & Neves, 2020). Dentre os prejuízos causados pelo afastamento das crianças e adolescentes à escola, estão o aumento do tempo em tela, a anormalidade no sono, o ganho de peso, os déficits nas capacidades cardiorrespiratórias e a diminuição da realização de atividades ativas (Lucas, Alvin, Porto, Silva & Pinheiro, 2020).
Dentre as queixas que os cuidadores expunham nos acolhimentos, a saída que muitos encontraram para o período angustiante de aulas suspensas e convívio social restrito foi o uso de aparelhos eletrônicos, mas com o alongamento do período de isolamento, inicia-se uma preocupação: o excesso de tempo, já que além dos estudos, o lazer foi transferido aos eletrônicos. Em certos momentos, direcionamos perguntas às crianças presentes na sala de acolhimento, como o que gostavam de fazer nas horas vagas, e em sua grande maioria, as respostas estavam ligadas a jogos online.
Percebe-se que uma das questões que atravessam as crianças e os adolescentes, que diferentemente dos adultos, não possuem os mesmos recursos simbólicos para expressar em palavras o que sentem diante de uma nova rotina, são os sentimentos de medo e de insegurança. Um estudo trazido por Rocha, Veloso, Bezerra, Gomes e Marcolino (2021), expõe uma pesquisa realizada em que 75,2% dos entrevistados conseguiram ter uma conversa com as crianças, os sentimentos mais ditos giravam em torno da preocupação, medo, insegurança, irritabilidade, todos esses devido à nova rotina. Além disso, as questões financeiras que afetaram as famílias são sentidas pelas crianças e adolescentes, podendo ser um dos fatores de aumento do sofrimento psíquico desta população (Rocha Veloso, Bezerra, Gomes & Marcolino, 2021). Como consequência do uso da internet, as informações sobre a COVID-19 chegaram até às crianças e adolescentes, compondo parte das queixas de ansiedade no período de isolamento, já que o medo tornou-se presente na vida da população.
Parte-se do princípio que o convívio social para as crianças e os adolescentes é parte fundamental para seu desenvolvimento saudável. É a partir da convivência com o outro e na diversidade que se dão as descobertas e trocas afetivas que caminham para a socialização e para a identidade social (Costa, Gonçalves, Sabino, Oliveira & Carlos, 2021). O afastamento da escola, como prevenção à contaminação ao vírus, trouxe interferências em seu desenvolvimento e impactos psicológicos importantes. Almeida e Junior (2021) apontam que a escola, além de ser um local de aprendizado de saberes científicos, se torna um local de socialização e desenvolvimento de habilidades sociais. Com o fechamento e afastamento dos estudantes, o local onde se passava a maior parte do dia, foi transferido para casa, sendo necessário permanecer por um período indeterminado (Almeida & Junior, 2021).
Em contrapartida ao que foi sentido no fechamento das escolas, após quase dois anos sem a frequência presencial, houve a dificuldade em retornar a essa rotina que já não se fazia mais recorrente. Um adolescente acolhido pelo grupo de estagiárias buscava uma carta assinada pelo psiquiatra que legitimasse sua vontade de não retornar à escola, sendo exemplar dos efeitos da pandemia sobre a população adolescente. Assim, como consequência da privação do convívio social dos jovens durante a pandemia, o medo, estresse, desamparo, falta de contato com outras pessoas senão as famílias causam consequências diretas na saúde mental e no desenvolvimento infantil (Almeida & Junior, 2021).
Diante do que foi percebido durante o acolhimento e escuta oferecida aos cuidadores, crianças e adolescentes que aguardavam consulta com a psiquiatria, um dos benefícios desse serviço oferecido é o favorecimento da diminuição da ansiedade frente a algo desconhecido, visto que para muitos tratava-se do primeiro contato com um psiquiatra. Além disso, visavam-se ações de promoção da saúde, estabelecimento de vínculo e um espaço de acolhimento no qual os pais pudessem relatar suas dificuldades e pensar em possibilidades de rede de apoio psicossocial. Na perspectiva de um acolhimento pontual, não é possível o estabelecimento de um vínculo sólido, mas por meio da escuta, os usuários se sentem acolhidos e escutados (Gomide, Pinto, Bulgarelli, Santos & Gallardo, 2018). Além disso, o atendimento psicológico é algo buscado nesse momento, mas que devido a um fluxo de rede, nem todos conseguem acesso.
No âmbito da Atenção Básica de Saúde, os acolhimentos pontuais possibilitam a interação entre usuários e os serviços de saúde, pois há muitos relatos de insatisfação a respeito da espera longa pelos atendimentos nas consultas, e estar aberto ao processo de escuta repercute de forma positiva na satisfação dos usuários com o cuidado ofertado (Gomide, Pinto, Bulgarelli, Santos & Gallardo, 2018).
Como um desdobramento dessa atividade de escuta e acolhimento na Unidade Básica de Saúde, foi percebida a possibilidade da abertura para a construção do grupo no formato remoto dirigido aos cuidadores de crianças e adolescentes, com o objetivo de oferecer um espaço para escuta e acolhimento após o recebimento de diagnósticos do neurodesenvolvimento. A chegada do diagnóstico a uma família pode gerar mudanças na organização familiar, no caso dos transtornos de neurodesenvolvimento. Segundo Reis et al.(2020), o diagnóstico ocasiona mudanças na vida social, financeira, no tempo destinado aos cuidados, ainda, estresse, irritação, depressão e alta sobrecarga, principalmente para as mães.
Devido à necessidade de apoio aos cuidadores que recentemente receberam o diagnóstico de Transtornos do neurodesenvolvimento ou transtornos na infância, viu-se a necessidade de um grupo de acolhimento, a fim de auxiliar a elaboração da notícia do diagnóstico e permitir que os cuidadores tenham uma rede de compartilhamento de seus medos e fantasias relacionados à criança. A realização desse projeto foi um dos resultados obtidos pela intervenção realizada na UBS, contando com a participação de duas mães ao longo dos encontros do grupo.
Foram quatro encontros, contando com a participação de duas mães. Os grupos tratavam dos temas: a chegada do diagnóstico aos cuidadores; fantasias, angústias e medos em relação à maternidade; informações sobre a rede de compartilhamento; e o último encontro ocorreu um momento de trocas e dúvidas. As mães relataram que o grupo foi essencial para o momento em que estavam, consideraram um espaço delas, para serem acolhidas e receberem informações importantes que nem sempre alcançam a todos, como por exemplo, o direito à vaga especial de estacionamento. Além disso, houve momentos em que as mães relataram que o grupo contribuiu para esse primeiro momento em relação ao recebimento do diagnóstico e a possibilidade de enxergar o filho para além do diagnóstico clinico.
Dessa forma, a importância do acolhimento é a possibilidade de que os profissionais da atenção primária, a partir de uma primeira conversa, ofereçam escuta, possibilitando que os usuários saibam que aquele local é seguro e que pode lhe ser oferecido cuidado e acompanhamento (Brasil, 2013). Com o conhecimento dessas demandas do território, a unidade pode criar recursos que deem suporte a essa população. Os estágios profissionalizantes entram como um braço para a implantação desse apoio a sua população.
Durante a prática do estágio, foi possível perceber que o papel do psicólogo na Atenção Básica é baseado no desenvolvimento de intervenções construídas no dia-a-dia, nos encontros entre profissionais e usuários que juntos estabelecem o cuidado em saúde. A escuta e o acolhimento, como formas de cuidado possíveis na saúde mental na Atenção Básica, são recursos potentes para a promoção da saúde, possibilitando o vínculo do profissional com o usuário e tornando possível o acesso a formas de cuidado compartilhada com os outros serviços.
Em uma dinâmica onde os usuários aguardam suas consultas, como foi realizada a intervenção, o acolhimento, juntamente com a escuta, auxiliou na diminuição da ansiedade antes das consultas. No entanto, as longas filas de espera e a urgência das intervenções, sobretudo quando se trata da primeiríssima infância, reforçam a necessidade de superação do modelo clínico-individual da atuação da Psicologia e o fortalecimento dos grupos e das ações em nível primário, visando à promoção da saúde.
Os desafios impostos pela pandemia ainda não estão terminados e as consequências no desenvolvimento infantil ainda são alarmantes. Nesse sentido, este relato de experiência demonstrou como a promoção da saúde é indispensável nas práticas no contexto da Atenção Básica, proporcionando a escuta e o acolhimento no intuito de suavizar os impactos da pandemia.
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