Entendemos que o editorial de uma revista é, também, uma carta aberta à pessoa leitora. Aqui nos apresentamos, com o carinho e alegria de quem entrega um presente embalado com muito zelo às mãos – ou às telas – este exemplar meticulosamente pensado para visitar as muitas histórias e memórias da psicologia.
Mas, desde já, te alertamos, pessoa leitora, que aqui estamos lidando com duas concepções de história, para nós, diferentes, porém complementares: que se cruzam, mesclam e dão vazão à diferentes expressões.
Uma que é (também) aquela clássica, arqueológica: no sentido de escavarmos pegadas, rastros, contribuições importantes de pessoas e obras precursoras da psicologia no Brasil e no mundo; outra que é entendida como “contemporânea”, a da historiografia: disputamos narrativas de presente, disputamos a “história oral” ou seus “lugares de fala” em relatos de experiência e disputamos o direito humano, demasiado humano, de poder olhar adiante.
Por isso, não congregamos com aquela concepção de uma única História, com H maiúsculo (chega de H maiúsculo!) que é aquela história dos vencedores, que é aquela história “naturalizada”, dos Homens brancos bravos, dos documentos encontrados, aquela história desprovida de crítica ou desejo. Ao contrário, abraçamos a diversidade narrativa. Disputamos as clínicas e as críticas para entendermos “a que ponto chegamos” diante do avanço de projetos de barbárie e fascismo.
Aqui, nesta carta aberta a vocês, comentamos nossa preocupação de que projetos distópicos e fundamentalista queiram varrer as políticas públicas conquistadas às duras lutas com os ventos e tufões do neoliberalismo. Também que um projeto de estado mínimo ou da transformação da classe trabalhadora em “empreendedores” (uberização do trabalho) avance a passos nada tímidos.
Gostaríamos que este fosse apenas mais um delírio paranoico, mas todo delírio é histórico, ninguém delira sozinho: temos evidências de que esse Real se apresenta cotidianamente (como grafam as pessoas admiradoras da psicanálise), ou evidências de que esse inconsciente é forjado diariamente com a naturalização de diferentes formas de violência, racismo, capacitismo e outras memórias ou estigmas com discursos conformistas de “sempre foi assim, não há o que possa ser feito”.
Estas concepções são pântano, areia movediça, doença do individualismo: salve-se quem puder. Não é essa a história que queremos, e nesse contexto, estamos aqui para criar e disputar espaço para novas histórias e memórias na psicologia.
Diante do cenário atual, não basta sentir medo ou esperar: precisamos inventar novas “armas” – e as nossas armas são as palavras: seja na força dos textos da categoria Estilhaços, escritos de colegas que estão iniciando suas jornadas na psicologia; nos relatos de experiência de quem trabalha com Políticas Públicas; nas reflexões teóricas sobre temas como os direitos das pessoas com deficiência ou as violências enfrentadas por mulheres no mercado de trabalho; nas revisões de obras contemporâneas que mapeiam as novas necessidades de saúde mental; ou em tantas outras vozes, afirmamos que há muitas históriaS para serem contadas.
A sexta edição da revista CadernoS de PsicologiaS ganha forma em sua versão digital. Com a temática “Memórias e Histórias da Psicologia”, esta edição convida você, pessoa leitora, a mergulhar em um conjunto de textos que escavam rastros e compartilham vivências, disputando sentidos e futuros possíveis para a Psicologia.
Aqui, não se trata de contar uma única História com H maiúsculo, mas de multiplicar narrativas — ora arqueológicas, ora contemporâneas — que reconhecem a potência da memória, da oralidade e das experiências diversas que atravessam a prática profissional e os debates da categoria.
Entre relatos, reflexões e afetos, a revista afirma o compromisso ético-político de não se calar diante das violências, apagamentos e retrocessos que rondam as políticas públicas e os direitos humanos. Em tempos de distopias em curso, fazer memória também é uma forma de resistência.
Leia, sinta, compartilhe. Há muitas históriaS para serem contadas — e você é parte delas.
As ideias presentes nos artigos publicados nesta revista são de responsabilidade das pessoas autoras, a exceção dos textos contidos no fascículo “Cadernos Técnicos do CRP-PR”, construídos pela Equipe Técnica/Comissão de Orientação e Fiscalização do CRP-PR.
Psic. Altieres Edemar Frei (CRP-08/20211)
Psic. Claudia Barbosa (CRP-08/05631)
Psic. Pamela Cristina Salles da Silva (CRP-08/20935)
Psic. Paulo Sérgio Pereira Ricci (CRP-08/174570) – até junho/2024
Psic. Thais Rodrigues Dos Santos (CRP-08/23443)
Helena Vicente – Estagiária da assessoria de pesquisas
Alec Bineck Lessa (DRT 1443/PR) – Designer
Regiane Mores – Designer gráfico | Diagramação
Samuel Oliveira de Castro – Back-end
Thayssa Machado Artigas – Estagiária de Graduação em Publicidade
Psic. Andrey Santos Souza (CRP-08/30527)
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