Ser psicóloga não me torna automaticamente imune à lógica manicomial,
Visto que ela não é algo palpável a ser descartada definitivamente.
Não é o diploma ou a inscrição na categoria que protege as minhas práticas e impede a sua materialização.
Já que os manicômios não são feitos apenas por Instituições,
o enclausuramento também existe no meu território mental,
o contorno das grades é delineado através do meu olhar, gestos, ideias, palavras, sentidos…
e assim, se alastram os estigmas e se atualizam os resquícios de uma herança histórica adoecedora.
Eu promovo a lógica manicomial quando individualizo e moralizo o sofrimento psíquico,
quando volto o tratamento para uma cura e omito a subjetividade na produção de saúde,
quando na minha prática ofereço uma tutela castradora – que despotencializa o protagonismo do sujeito no mundo,
quando coisifico, infantilizo, patologizo na contramão de co-criar uma governabilidade,
quando cronifico o sujeito no seu papel exclusivo de paciente ou usuário,
quando desqualifico as crises e o que elas têm a dizer,
quando foco muito mais em achar soluções compartimentalizadas sem incluir a construção de sentido de vida,
quando supervalorizo a proteção no molde assistencialista, excludente e caritativa, ao invés do incentivo à cidadania e inserção social,
quando invalido o peso das desigualdades e discriminações na minha escuta, acolhimento e compreensão,
Assim, sou capaz de ser manicomial até me propor consistentemente a fazer diferente.
Ser antimanicomial não é um projeto com um fim estipulado e bem definido a ser seguido, com suas verdades imutáveis e incontestáveis.
É o processo de desconstrução contínua, de aprendizado permanente, do desenvolvimento insistente da autonomia crítica de pensamento e criatividade, da prática da própria cidadania, da mobilização e conexões sociais.
É a construção da minha subjetividade em contato com a Luta — que precisa ser viva na minha autorreflexão,
Já que a resistência não é feita apenas por ações de mobilização na rua,
a emancipação também existe no meu território mental,
o contorno das grades é dissolvido através do meu olhar, gestos, ideias, palavras, sentidos…
e assim, se alastram as conscientizações, se atualizam e multiplicam as boas práticas em Saúde Mental.
[1] Este texto também foi trabalhado em outras mídias e formatos, por meio de recursos audiovisuais elaborados pela autora. Para acessar vídeo, clique em: https://youtu.be/U43kf-jBJp4 ou https://drive.google.com/file/d/1IyD2MHgQvYuPnHPeYJylBY48nc888NwO/view?usp=sharing; Para acessar marca página, clique em: https://drive.google.com/file/d/1ta07gXzOr0mt9RP6B0Sz5mnSGIPxUMpG/view?usp=sharingm
APA — Isume, B. M. (2022). O desmonte do meu manicômio mental: a luta antimanicomial na autorreflexão. CadernoS de PsicologiaS, 3. Recuperado de https://cadernosdepsicologias.crppr.org.br/o-desmonte-do-meu-manicomio-mental-a-luta-antimanicomial-na-autorreflexao/
ABNT — ISUME, B. M. O desmonte do meu manicômio mental: a luta antimanicomial na autorreflexão. CadernoS de PsicologiaS, Curitiba, n. 3, 2022. Disponível em https://cadernosdepsicologias.crppr.org.br/o-desmonte-do-meu-manicomio-mental-a-luta-antimanicomial-na-autorreflexao/. Acesso em __/___/___.