Revista CadernoS de PsicologiaS

O desmonte do meu manicômio mental: a luta antimanicomial na autorreflexão[1]

Bruna Marinho Isume
Psicóloga (CRP-08/22127) — E-mail: brunaisume@gmail.com
#Estilhaços

Ser psicóloga não me torna automaticamente imune à lógica manicomial,

Visto que ela não é algo palpável a ser descartada definitivamente.

Não é o diploma ou a inscrição na categoria que protege as minhas práticas e impede a sua materialização.

Já que os manicômios não são feitos apenas por Instituições,

o enclausuramento também existe no meu território mental,

o contorno das grades é delineado através do meu olhar, gestos, ideias, palavras, sentidos…

e assim, se alastram os estigmas e se atualizam os resquícios de uma herança histórica adoecedora.

 

Eu promovo a lógica manicomial quando individualizo e moralizo o sofrimento psíquico,

quando volto o tratamento para uma cura e omito a subjetividade na produção de saúde,

quando na minha prática ofereço uma tutela castradora – que despotencializa o protagonismo do sujeito no mundo,

quando coisifico, infantilizo, patologizo na contramão de co-criar uma governabilidade,

quando cronifico o sujeito no seu papel exclusivo de paciente ou usuário,

quando desqualifico as crises e o que elas têm a dizer,

quando foco muito mais em achar soluções compartimentalizadas sem incluir a construção de sentido de vida,

quando supervalorizo a proteção no molde assistencialista, excludente e caritativa, ao invés do incentivo à cidadania e inserção social,

quando invalido o peso das desigualdades e discriminações na minha escuta, acolhimento e compreensão,

Assim, sou capaz de ser manicomial até me propor consistentemente a fazer diferente.

 

Ser antimanicomial não é um projeto com um fim estipulado e bem definido a ser seguido, com suas verdades imutáveis e incontestáveis.

É o processo de desconstrução contínua, de aprendizado permanente, do desenvolvimento insistente da autonomia crítica de pensamento e criatividade, da prática da própria cidadania, da mobilização e conexões sociais.

É a construção da minha subjetividade em contato com a Luta — que precisa ser viva na minha autorreflexão,

Já que a resistência não é feita apenas por ações de mobilização na rua,

a emancipação também existe no meu território mental,

o contorno das grades é dissolvido através do meu olhar, gestos, ideias, palavras, sentidos…

e assim, se alastram as conscientizações, se atualizam e multiplicam as boas práticas em Saúde Mental.

 

Notas

[1] Este texto também foi trabalhado em outras mídias e formatos, por meio de recursos audiovisuais elaborados pela autora. Para acessar vídeo, clique em: https://youtu.be/U43kf-jBJp4 ou https://drive.google.com/file/d/1IyD2MHgQvYuPnHPeYJylBY48nc888NwO/view?usp=sharing; Para acessar marca página, clique em: https://drive.google.com/file/d/1ta07gXzOr0mt9RP6B0Sz5mnSGIPxUMpG/view?usp=sharingm 

Como citar esse texto

APA — Isume, B. M. (2022). O desmonte do meu manicômio mental: a luta antimanicomial na autorreflexão. CadernoS de PsicologiaS, 3. Recuperado de https://cadernosdepsicologias.crppr.org.br/o-desmonte-do-meu-manicomio-mental-a-luta-antimanicomial-na-autorreflexao/

ABNT — ISUME, B. M. O desmonte do meu manicômio mental: a luta antimanicomial na autorreflexão. CadernoS de PsicologiaS, Curitiba, n. 3, 2022. Disponível em https://cadernosdepsicologias.crppr.org.br/o-desmonte-do-meu-manicomio-mental-a-luta-antimanicomial-na-autorreflexao/. Acesso em __/___/___.