Resumo: Inquietações sobre o atravessamento na teoria psicanalítica freudiana na pandemia. O ensaio sobre algumas obras de Freud tem como objetivo apontar teorias antigas e, ao mesmo tempo atuais. Através do enlace social e psicanalítico, implicando na reflexão necessária à transformação e ultrapasse do percurso, com redução de danos psicológicos e compreensão de sociedade e sujeito, em sua subjetividade e, portanto, seu comportamento frente ao momento. Reflexões sobre a relação do medo, da angústia e das defesas, segundo a estrutura do sujeito, as quais compreendidas, geram mudança no sentido, tanto sentimento quanto direção. Finalmente, notas sobre a prática clínica frente ao COVID-19.
Palavras-chave: psicanálise; pandemia; Freud.
The thinking, the feeling and the doing of Freud yesterday, in today’s pandemic
Abstract: Concerns about the crossing in Freudian pssychoanalytic theory in the pandemic. The essay on some of Freud’s works aims to point out ancient and, at the same time, current theories. Through the social and psychoanalytic link, implying the necessary reflextion for the transformation and going beyond the path, with reduction of psychological demages and understanding of Society and subject, in their subjectivity and, therefore, their behavior in the face of the moment. Reflections on the relashionship of fear, anguish and defenses, according to the structure of the subject, that when are understood, generate change in the sense, both feeling and direction. Finally, notes on clinical practice compared to covid-19.
Keywords: psychoanalysis; pandemic; Freud.
El pensamiento, el sentimiento y el hacer de Freud ayer, en la pandemia de hoy
Resumen: Preocupaciones por el cruce em la teoria psicoanalítica freudianda em la pandemia. El ensayo sobre algunas de las obras de Freud tiene como objetivo señalar teorias antiguas y al mismo tempo, actuales. A través del vínculo social y psicoanalítico, implicando la refleción necessária para la transformación y transpasso del caminho, com redicción de los daños psicológicos y comprensión de la saciedade y el sujeto, em su subjetividade y, por tanto, su comportamento frente al momento. Reflexiones sobre la relación del miedo, la angustia y las defesas, según la estrutura del sujeto, que, entendido, generan um cambio em el sentido, tanto de sentimiento como de dirección. Finalmente, notas sobre la práctica clínica em comparación com COVID-19.
Palavras clave: psicoanálisis; pandemia; Freud.
A proposta desse escrito é trazer à tona algumas das inúmeras teorias apontadas por Freud, que mesmo parecendo antiquadas, são pertinentes ao momento em que vivenciamos. Trata-se da correlação entre as obras originais e o contexto da pandemia, vivido mundialmente nesse momento. Pois muitos dos ensinamentos freudianos, auxiliaram de forma única, a compreensão da sociedade.
Psicanálise e Sociologia passam a conversar de perto; afinal, não há como se entender sociedade, sem antes entender o sujeito que nela está inserido. Bauman (1998), nos diz que na modernidade há uma constância de instabilidade, que provoca o sujeito a interromper o movimento, buscando algo que pause, que instale segurança; algo pautado na fantasia de “um mundo bom”, quebrando o chamado de estranho.
Diversas obras de Freud fazem a ponte do passado com a atualidade, as mesmas que permitiam uma nova forma de ver o mundo frente a uma Guerra Mundial, permitem uma nova forma de ver o mundo frente ao COVID-19. Afinal, “toda sociedade produz seus estranhos (…) de uma maneira inimitável, (…) que geram angústia, incerteza, que por sua vez dá origem ao mal-estar de se sentir perdido” (Bauman, 1998, p. 27).
Este repensar da humanidade, vivido no pós guerra, rende grandes obras literárias. “Totem e Tabu” (Freud, 1912-1913/2012), por exemplo, apresenta uma explicação sobre o desenvolvimento humano e sua vivência em grupo. Freud se utiliza dos povos primitivos, da antropologia e de suas mais variadas teorias, constituindo uma teoria própria, onde é dado o poder ao Totem.
Totem é tido como uma representação simbólica do controle e do poder, criado para minimizar a culpa da morte do pai e, portanto, a falta de um líder/poder, a qual Freud achava imprescindível para a vida em sociedade. Desta forma, a obra fala de liderança, de poder, de controle, de grupos, massa, sociedade e discurso.
Afirma Freud sobre as palavras: “Se as pronunciarmos com devoção diante das massas, imediatamente as expressões faciais se tornam respeitosas e as cabeças se curvam.” (Freud, 1912-1913/2012, p. 75). Há um poder mágico nas palavras, as quais são dissipadas nesse coletivo, como tormentas ou calmaria. A teoria traz consigo uma polêmica enorme e, por traz da metáfora do Totem, uma grande discussão e reflexão acerca das sociedades e civilizações.
Ao longo de sua história, Freud foi modificando seus conceitos, sempre de forma clara e honesta, assumindo seus erros e mudanças de opinião. Subsequentemente, ele adiciona a teoria das pulsões, afirmando que esta energia primitiva deveria ser reprimida e sublimada, isto é, a construção de uma espécie de controle próprio, favorecendo o bom convívio em sociedade.
Era necessário, portanto, que se reprimisse esse primitivo sexual e agressivo, e dirigisse essa energia para algo produtivo e/ou possível em uma sociedade. Entretanto, o que não estava previsto, era o descontentamento que isso causaria. Surge aqui inspiração para outra obra tão conhecida “O Mal-estar na Civilização” (Freud, 1930/2010). Segundo esta obra, as pessoas estão sempre descontentes, buscando algo; o sujeito se vê frente a dois caminhos: uma busca eterna pela satisfação, como uma alavanca (mesmo que o buscado nunca seja alcançado); ou a falta desta alavanca, gerando um caos psíquico.
É possível dizer que a psicanálise caminha na contramão da contemporaneidade, onde o discurso, além de capitalista, tenta globalizar o sujeito, no sentido de padronizar; pois para a psicanálise, o que importa é o sujeito unitário, a subjetividade e responsabilidade sobre seus atos (Dupim, 2014).
Em momento de pandemia, é necessário que o sujeito se exclua da coletividade e olhe para si, de forma única e de forma subjetiva. Há um luto coletivo apresentado pela situação; um luto não apenas de pessoas, mas de uma morte de sonhos, de planos, de visões de mundo. As possibilidades de enfrentamento é que fazem mudar esses sintomas e o sofrimento psíquico.
Experienciamos um momento de cobranças, cercada de incertezas, marcada por perdas e causador dos mais diversos tipos de ansiedade, um pânico generalizado; todavia, um pânico que já existia, apenas acentuado pela pandemia. Com a angústia e ansiedade acentuadas, e a obrigação de olhar para si, proporcionada pelo isolamento, as pessoas ao se olharem, não gostam do que veem. Esse lugar desgostoso e inquietante traz questionamentos importantes, mas muitas vezes sem respostas claras ou rápidas.
O reflexo da inquietação causa medo, insegurança, desconhecimento e, principalmente, negação. Negar a existência de algo ativa os mecanismos de defesa, engrandecendo meios de fuga, tais como o aumento do consumo de álcool, o aumento de uso de substâncias em geral, além do aumento de antidepressivos e medicamentos para relaxar e dormir; enfim, formas para que se não enxergue a realidade, se postergue a reflexão.
Esse medo, mesmo que inconsciente, faz negar; e o sujeito que nega a existência do vírus apresenta comportamentos voltados a si, mas sem cuidar de si. Para este sujeito, a fuga é acreditar que nada vai acontecer e, portanto, não é necessário se proteger, fazer isolamento social ou tomar qualquer cuidado. Muitas vezes quem nega, não sabe que está em negação, não sabe que sua forma de agir, de certa maneira, protege seu psíquico, evitando viver a situação; mas não o protege do que, de fato, pode acontecer.
O momento pandêmico contraria, priva, irrita, tira da zona de conforto, mas traz à tona uma experiência que transforma, para o bem ou para o mal. Seria necessário que o Estado, poder ou líder, trouxessem informações confiáveis para configurar o amparo e segurança à esse desamparo nato, apresentado por Freud. Desta forma, haveria alicerce para o enfrentamento, através da referência simbólica, do objeto de admiração necessário ao processo; o que parece não estar acontecendo no Brasil.
O isolamento social remete a privação, proibição e controle; mas se vistos de outro ângulo, é perceptível que a liberdade só funciona com a racionalidade. O isolamento ou distanciamento, portanto, dá essa oportunidade de reflexão, um espaço de preparo para a ação, um momento de compreensão dos desejos e limites para, somente então, compreender o que Freud já dizia em 1930 sobre a relação da renúncia e civilização.
Ao contrário do que parece, o distanciamento social pode trazer uma maior aproximação social, proporcionando uma transformação histórica e definitiva. Todavia, é importante o cuidado com os sintomas: o pensar, o sentir, o fazer com isso. Fazer sem pensar e fazer sem sentir são sintomas de angústia, de excesso de ansiedade, de pânico. E quando o sujeito está sob essa ansiedade, sente-se desorganizado, com algo atravessado, engasgado.
A psicanálise é estruturada nessa escuta do inconsciente, onde é encontrado na fala, o não dito ou o que se quis dizer. A fala traz esse meio de modificação, ressignificando, instaurando novas regras e caminhos sobre o Eu e sobre a relação entre o Eu e o Outro. Outro em que se situa a cadeia do significante que comanda tudo, onde o sujeito tem de aparecer, diz Lacan (1979), em seu Seminário 1. É, portanto, inevitável, o inconsciente dá um jeito de escapar, seja através dos sonhos, dos atos falhos, dos sintomas; e a distância social não impede essa fala, quanto menos a escuta de si mesmo.
Há, também, nessa relação com o Outro, o significante que caracteriza o sujeito em um grupo; ou seja, onde desenvolve suas cadeias, sua história. E o sujeito se vê no Outro (Lacan, 1979). Desta forma, o isolamento social causa certa angústia, mas segundo Lacan (1962): é na possibilidade da ausência que se encontra a segurança da presença.
Em “Psicologia das Massas e Análise do Eu” Freud (1921/2011) explana sobre pulsão de vida e pulsão de morte, faz uma revisão sobre sua teoria pulsional inicial, percebendo essa importante relação de amor e ódio sobre si e sobre o outro, satisfazendo as pulsões. Partindo dessa premissa, é possível observar no momento de pandemia, um desmerecimento do Outro. O momento é uma guerra declarada entre saúde e capitalismo, é também um momento de indistinção, onde raça, gênero, cor, ou qualquer outra característica são iguais.
Momento este, que o capitalismo não consegue imperar, que o dinheiro perde seu valor e as pessoas se tornam simples iguais. Importante enfatizar que, em meio ao coletivo, há um sujeito único, com suas individualidades, subjetividades e suas pulsões. E, dentre estes, há os que se utilizam da inconsciente pulsão de morte, agindo de forma contrária aos limites impostos pela saúde, refletindo risco para o Outro, pelo simples prazer de destruição de si e de seus semelhantes.
A obra “Inibição, Sintoma e Angústia” (Freud, 1926/2014), permite a associação das colocações de Freud sobre as respostas do homem ao perigo, que por sua natureza, geram medo, angústia ou terror. Através dessa classificação, o medo se trata de ansiedade por um objeto, algo conhecido, a angústia, uma ansiedade a algo incerto, confuso, indeterminado e, por fim, o terror, a ansiedade frente ao desconhecido, ao inesperado.
Pensando a teoria com o COVID, é convalidado o terror apresentado por Freud. E sobre isso, é necessário que se saiba como enfrentar, e que dentro da psicanálise, dependerá da estrutura clínica de cada sujeito, apresentando comportamentos como a indiferença, a afirmação de que se tinha certeza que algo aconteceria, a negação ou mesmo o alívio por ser um problema universal.
É exatamente pela subjetividade do sujeito, apresentada pela estrutura clínica e pelo seu comportamento, que não há como padronizar, generalizar ou mensurar o sofrimento individual frente à pandemia. É importante que as pessoas entendam, mesmo que através dos maiores clichês da Psicologia, que não estão sozinhas, que, de fato, vai passar, que é momento de parar, de refletir, que amanhã é outro dia.
Como afirma o psicanalista e professor da USP, Christian Dunker (citado por Machado 2020, 04 de abril) em entrevista à BBC News Brasil, o tolo tende a negar para enfrentar o medo, o desesperado se angustia e o confuso, transita entre os dois polos, sem saber como agir ou pensar. Porém, “Se você não está confuso nesse momento, procure um psicanalista porque você tem um problema, e ele não é o coronavírus”.
Partindo dessa confusão e inquietação, não há como fugir do que implica ao profissional da área psi, seja psicólogo, seja psicanalista. A pandemia é uma situação nova, entretanto, a necessidade de atendimento virtual já vem sendo imposta pelo período histórico e pela globalização há tempos. A situação impõe uma situação, como também impõe transformação.
Freud atendeu através de cartas, e seus seguidores, como o próprio Lacan, atenderam por telefone, cartas, escritos. Há uma necessidade de adequação ao momento histórico, ora Guerra, ora epidemia, ora pandemia e, em especial a tecnologia. As cartas se transformaram nos e-mails, o telefone, nos aparelhos celulares. E a prática, desde que mantendo seus fundamentos, deve se adequar. O profissional precisa estar aberto ao novo, preparado para sair da zona de conforto.
Em pelo menos dois momentos, bastante conhecidos e discutidos, Freud apresenta o atendimento em cartas, na “Análise da Fobia de um Garoto de Cinco Anos – O Pequeno Hans” (1909/2015), onde se pode afirmar êxito no atendimento produzido pela realização do tratamento aplicado pelo pai e, no segundo caso, como exemplo de um caso negado por Freud, também por carta, onde, em 1935, uma mãe aflita pede ajuda para reverter a homossexualidade do filho, caso negado e justificado por não haver nada de errado com esse filho, por não se tratar de vício, degradação, quanto menos uma doença. (Ianini, 2019)
Independentemente da via a ser utilizada, a transferência é um ponto chave em qualquer atendimento psico-analista, mesmo que, algumas vezes, utilizada com outro nome. Faz-se crucial para que o processo aconteça. Trata-se de um mecanismo que acontece antes mesmo do atendimento, ou seja, na escolha do profissional, na pesquisa sobre a pessoa, na indicação, nas inquietações pessoais que levam ao sujeito a essa busca.
O espaço físico, o chamado setting terapêutico, é perdido em partes nesse momento virtual, a importância do cheiro, da música, dos sons, do ambiente, da luz. Mas é possível computar alguns ganhos na mudança, onde pacientes mais tímidos preferem ser atendidos virtualmente, onde o paciente que quase não falava, passa a falar, entre tantas situações inusitadas e que, apenas confirmam o clichê do “caso a caso”. E que, de fato, são; cada caso é um caso, cada profissional é um profissional.
Não cabe nesse momento ser contra ou a favor, também não cabe a ilusão de abertura de consultórios virtuais. Algo restará; e, mesmo que cedo para dizer, um resto de pandemia, um resto de atendimento online, um resto de algo incerto; restos e efeitos. Não há um padrão, não há um ideal, não há uma regra, mas é imprescindível que haja ética e escuta. O que se pode afirmar é um espalhamento de informações, que não existia, proporcionando uma nova realidade, talvez abrindo um novo cenário para a importância dos cuidados com a saúde mental e o bem-estar psíquico.
O escutar independe do local, o escutar é da ordem de um acolhimento, escutar as palavras, escutar imagens, escutar o Outro, escutar a si mesmo. A escuta da não presença, da falta, a escuta de algo que modifica, que mexe, a escuta do que sobra, do que sofre, mesmo que no virtual, mesmo que não vendo, mesmo que tendo que reinventar sobre algo que já se sabe, mesmo que inovando ou qualificando um escutar já existente, afinal, como diz Lacan: a palavra já é uma presença feita de ausência (Lacan, 1998, p. 277).
O momento pede uma revisão teórica, mas principalmente uma revisão prática. Pede a empatia e abertura para o manejo do incerto, o manejo do novo caso, o caso chamando “atendimentos online”. Atendimento que implica no não desamparo do paciente, na compreensão de uma pausa física, mas não emocional. Atendimento que requer plasticidade e flexibilidade, frente a angústia de profissionais e pacientes, que também pode servir de mola propulsora ao processo terapêutico.
É diferente de atendimentos continuados de forma virtual, como aquele que viaja, aquele que se muda, aquele que está acamado; ainda é diferente daqueles que já estavam sendo atendidos remotamente por motivos diversos. É inegável a mudança de quadro, a imposição das telas, seja celular, computador. É inquestionável o sublinhar das diferenças sociais e dificuldades com aqueles que não tem acesso aos elementos mínimos necessário a um atendimento virtual. É também inquestionável que os profissionais da área psicológica, ao nadar em reflexões, acabem por criar impedimentos e até mesmo resistências frente à situação.
O momento pede quebra de regras, o próprio Freud, ao atender por cartas, quebra suas próprias regras, molda-se a situação; mas, o alicerce desse presente, desse novo real, são os fundamentos do passado. O caminhar é o que constrói uma direção, feita esta, de atravessamentos, de contextos, de momentos como esse. Há que se quebrar o mal-estar com soluções ao invés de apontamentos de impossibilidades.
Freud nos diz:
(…) a vida, tal como nos é imposta, é muito difícil para nós, traz-nos muitas dores, desilusões, tarefas insolúveis. Para suportá-las, não podemos prescindir de medidas paliativas. Essas medidas talvez sejam de três tipos: distrações poderosas, que nos permitem menosprezar a nossa miséria, satisfações substitutivas, que a amenizam, e substâncias entorpecentes, que nos tornam insensíveis a ela. (…) A questão sobre o propósito da vida humana foi colocada incontáveis vezes, ela nunca teve nenhuma resposta satisfatória, talvez nem sequer admita alguma (Freud, 1928/2020, pp. 318-319).
A nossa atualidade já esteve presente em Freud, no ano de 1928. A vida impõe uma situação, causa dores, desilusões, frustrações, angústias e medos e, principalmente, tarefas insolúveis. Mesmo que as “novas regras” sejam impostas, nada será satisfatório, pois cada caso é um caso, cada um é cada um, e por incontáveis vezes, surgirão novas situações, inquietações e/ou novos propósitos de vida.
Voltemos ao título: o sentir, o pensar, o fazer: é um momento extraordinário que requer reflexões, que produz dúvidas e questionamentos, que inquieta, que provoca. Isolamento faz pensar e repensar o cumprimento da prática dentro da ética. Não há um corpo físico presente, mas há corpo presente, há discurso, há linguagem, há palavra, a mesma palavra que Freud já dizia curar em seu “talking cure”, não no sentido físico, mas no sentido de curar um vinho, no sentido de transformar e se transformar com o tempo, com o tempo de cada um.
Talvez, assim como fez Lacan sobre as obras de Freud, os questionamentos dominem as respostas e o contexto que tanto faz pensar, pede reflexões, tais como: é mesmo necessária essa divisão entre atendimento virtual e presencial? Quais são os elementos e fundamentos que permitem esse atendimento e a descaracterização de setting? Como é possível acolher e contribuir com o paciente e como o momento, sem deslocar as inquietações subjetivas, sem interferência das próprias faltas?
Nega-se a realidade por um desejo de mudança. É necessária uma divisão sobre a realidade de fato e a opinião. COVID-19 é um dado fático, entretanto, por insuficiência científica, permite a aceitação, a aceitação justificada, bem como a negação. Mesmo que se deseje o fim, é preciso encarar a realidade; inclusive quando encoberta a verdade por meio de discursos políticos ou de massa, ou ainda quando uma verdade é disposta apenas para satisfação libidinal. Portanto, há que se refazer a verdade, personificada na realidade apresentada como fato, seja pandemia, seja prática clínica.
A negação não pode ser o melhor caminho, pois tão rápido quanto o vírus, surgem as incertezas, o contato e o contágio delas. É um momento repleto de perdas e lutos, onde o profissional vive a mesma realidade que o paciente. A importância está em não calar a palavras, não findar a escuta; e que a ressonância ocorra mesmo sem corpos, mas amparados pela ética, e que esta, também seja contagiante.
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