Revista CadernoS de PsicologiaS

Psicologia do esporte para além do alto rendimento

Hiléia Fernanda dos Santos
(CRP-08/28140)
A autora é psicóloga, formada pelo Centro Universitário Unidombosco, especialista em Psicologia do Esporte, Psicologia Escolar, Parentalidade e Psicologia Positiva.
Se dedica a as nuances do esporte seja atuando com atletas ou seus familiares. Você pode entrar com contato com a autora através do Instagram @hileia.santos

#Estilhaços

ERRATA: Na versão impressa deste artigo, a seção “Como citar este texto” foi inadvertidamente omitida e substituída pela referência do texto “Um homem comum, um ato extraordinário – uma homenagem a Oziel Branques dos Santos”. A versão apresentada aqui, que segue os padrões editoriais estabelecidos, deve ser deve ser considerada a referência oficial para citações em ABNT ou APA, tanto na versão impressa quanto digital. Lamentamos o equívoco e agradecemos pela compreensão.

Começo esse estilhaço com o intuito de trazer informação, visto que minha área de atuação não é tão difundida no Paraná, começo aqui dizendo que trarei opiniões baseadas em minha experiência e percepção das vivências dos últimos anos, e que esse recorte não deve ser generalizado, porém, dar luz a reflexão.

Falo no lugar de psicóloga do esporte que foi aprendendo com essa especialidade da psicologia que agora está tão em alta, visto que, a pouco estávamos no período de Jogos Olímpicos.

Trabalho com futebol e nesses anos de atuação tenho me deparado com diversos jovens (piás e gurias) em busca do tão almejado reconhecimento e do sonho de se tornarem jogadores de futebol profissional, quiçá aclamados pelo público.

Para quem vê de fora, esse caminho pode parecer fácil e cheio de privilégios, e há quem diga aquela frase clichê “só vive o propósito quem suporta o processo”, mas não é bem assim; em minha atuação tenho visto jovens que se esforçam, que abdicam de sua infância e adolescência em prol do futebol, e que às vezes chegam onde almejam.

O futebol enquanto mercado, por vezes faz com que a jornada do jovem se torne um caminho de pressão, interesses financeiros e grandes expectativas, geradas por famílias, clubes e empresários; sendo que por muitos são vistos até como peças, números e troféus… 

Em minha experiência tenho tido cada vez mais convicção de que além de, contribuir para a formação de atletas cidadãos, que com certeza precisam ser estimulados à educação, precisamos ajudar a formar jovens cada vez mais fortalecidos emocionalmente. Nesse sentido, e já “puxando a sardinha para minha brasa”, tenho visto que, apesar de o futebol às vezes andar na contramão do mundo no que diz respeito a saúde mental, sem contratação de profissionais qualificados para a atuação com esses jovens atletas, deixando-os ainda mais fragilizados e à mercê do sistema, a psicologia do esporte resiste, visto que são esses (nós), os profissionais que contribuem para a construção socioemocional de jovens em formação e para o desenvolvimento do pensamento crítico em relação a sua própria existência. Haja vista as recentes entrevistas de jovens atletas competidores dos jogos olímpicos que por vezes tem relatado suas experiências positivas em relação aos cuidados com a saúde mental dentro e fora da sua atuação esportiva.

Além disso, grandes nomes do futebol, como o goleiro Cássio e o centroavante Richarlison recentemente também apresentaram seus relatos pessoais, no que diz respeito à importância dos cuidados psicológicos para suas vidas. 

Pensando na saúde mental, fica evidente a necessidade e importância do acompanhamento psicológico de jovens que por si só já vivenciam turbilhões de emoções no que diz respeito as fases do desenvolvimento, somado ao fato do alto rendimento no esporte exigir muito deles enquanto seres humanos, devemos então refletir que de nada adianta cobrar desses atletas a performance ao custo de sua saúde mental, como seres biopsicossociais com mente e corpo interligados, se não estiverem emocionalmente saudáveis, serão prejudicados em seu rendimento e não entregarão o que de fato os é exigido.

Isto posto, deixo aqui um recado para psicólogas e psicólogos que querem se especializar na área e trabalhar com jovens em formação, conheçam os atletas aos quais trabalharão, conheçam as famílias, o contexto social, as comissões técnicas, os empresários, as instituições, atuem realmente sob a perspectiva do desenvolvimento humano… Pois, como disse Saramago em sua obra intitulada Ensaio sobre a Cegueira… “Por que foi que cegamos, não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, queres que te diga o que penso, diz, penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que, vendo, não veem…”

Referência
Saramago, J. (2002). Ensaio sobre a cegueira. Companhia das Letras. 24º reimpressão.
Como citar esse texto – edição impressa

ABNT —  SANTOS, H. F. Psicologia do esporte para além do alto rendimento. CadernoS de PsicologiaS, n6, edição impressa.

APA — Santos, H. F. (2024). Psicologia do esporte para além do alto rendimento. CadernoS de PsicologiaS, n6, edição impressa.

Como citar esse texto – edição digital

ABNT — SANTOS, H. F. Psicologia do esporte para além do alto rendimento. CadernoS de PsicologiaS, n. 6. Disponível em: https://cadernosdepsicologias.crppr.org.br/psicologia-do-esporte-para-alem-do-alto-rendimento/ . Acesso em: __/__/___.

APA — Santos, H. F. (2024). Psicologia do esporte para além do alto rendimento. CadernoS de PsicologiaS, n6. Recuperado de: https://cadernosdepsicologias.crppr.org.br/psicologia-do-esporte-para-alem-do-alto-rendimento/