#Estilhaços
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Achei curioso pensar que ao ler que a temática desta edição era sobre memória e história, só me veio inquietações sobre o presente e futuro da psicologia. Qual é a relação e os impactos do passado, presente e futuro na prática?
Percebe-se que, ao resgatar a história da psicologia durante as disciplinas iniciais dos primeiros períodos do curso, nossa profissão sempre exigiu de nós um nível de manejo de quem se arrisca independente da área ou abordagem.
Encontrar um equilíbrio entre a resistência e a flexibilidade, entre buscar pelo novo e se deparar com diversos estigmas e dificuldades socioculturais, entre teoria e prática. Isso faz parte da construção da história e nos deixa habituados a se adaptar diante de diferentes contextos. Deste modo, uma das competências que desde o início percebo como relevante para o psicólogo é a adaptabilidade. Mas como se adaptar em uma sociedade que avança e se altera juntamente com as novas tecnologias?
Como estudante do último período da graduação de psicologia e pessoa identificada como pertencente à geração z, é imprescindível abordar sobre a tecnologia e a psicologia, principalmente nos dias atuais. Seja através do uso da inteligência artificial, o excesso de exposição às telas ou a quantidade de carga horária que as redes sociais ocupam em nossas vidas, de qualquer modo, é perceptível que a tecnologia vêm alterando não só aspectos comportamentais e emocionais do sujeito, mas gerando impactos nas relações interpessoais e até mesmo em questões de saúde física e mental. Ao estudar sobre o indivíduo, leva-se em consideração que este é um ser biopsicossocial, no entanto, como é este indivíduo na esfera digital?
Para além do pensamento sobre o outro, que geralmente nos deparamos com suas demandas nos diferentes dispositivos que o psicólogo atua, percebo que as redes sociais causam impactos também no profissional. Nota-se que o discurso criado de que um perfil profissional é o cartão de visita da atualidade e que estar presente em todas as redes sociais irá te dar destaque, tem uma relevância no sentido de facilitar o acesso à saúde mental, democratizar e levar conhecimento para públicos que antes sequer sabiam quais poderiam ser as contribuições da psicologia.
No entanto, esta sensação de obrigatoriedade causa também uma classe que se vê na necessidade de se reinventar a cada tendência, se desdobrar em ser psicólogo, designer e criador de conteúdo, se deparar com outros profissionais que viralizam através de vídeos com ausência de ética e repletos de informações incorretas sobre psicopatologia e psicodiagnóstico, construindo uma visão errada da profissão, questionando se a quantidade de visualizações é sinônimo de qualidade de informação e de que tudo deve ser feito imediatamente. Assim, nota-se que o “sucesso profissional” contemporâneo por vezes encontra-se atrelado à espetacularização da vida e ao conteúdo que viraliza.
Neste sentido, me torno inquietante diante de como a internet, o capitalismo e o narcisismo se relacionam e refletem em questionamentos sobre a “necessidade” de estar online, nos afetando através de comparações, alienação, distorção de tempo e cansaço, bem como me inquieto nesta construção do meu trajeto profissional, onde percebo que a competência da adaptabilidade se mostra necessária para além dos estágios obrigatórios ou em ambiente de sala de aula.
Há um verso de um poema de um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa (2015, p. 72) que diz que “a realidade sempre é mais ou menos do que nós queremos” e deste modo, é imprescindível se recordar da adaptabilidade como um modo de encontrar o nosso fazer enquanto profissionais, construindo e alterando nossa realidade, contribuindo diariamente com a história da psicologia e trazendo perspectivas plurais sobre o que é ser psicólogo na contemporaneidade e quais narrativas futuras podem ser criadas, respeitando os direitos humanos e o Código de Ética Profissional. Por fim, é relevante considerar quais são as nossas ações no meio digital, visto que minha reflexão inicial sobre resgate de memória e narrativa de futuro, me faz pensar que talvez as coisas não sejam tão lineares quanto imaginamos.
Quanto às incertezas e inquietações do futuro, busco enquanto estudante e futura profissional me orientar pelas diretrizes do Conselho, pelos fundamentos teóricos, mas também pelo que Fernando Pessoa diz, seguindo meu destino, já que o resto é sombra de árvores alheias.
Pessoa, F. (2015). Poemas de Ricardo Reis. Lisboa, PT: Imprensa Nacional Casa da Moeda. Recuperado em: https://imprensanacional.pt/wp-content/uploads/2022/03/PoemasRicadoReis.pdf
ABNT — FERNANDES, L. G. Segue teu destino: reflexões sobre o uso das redes sociais na construção do futuro da psicologia enquanto profissão. CadernoS de PsicologiaS, n6, edição impressa.
APA — Fernandes, L. G. Segue teu destino: reflexões sobre o uso das redes sociais na construção do futuro da psicologia enquanto profissão. CadernoS de PsicologiaS, n6, edição impressa.
ABNT — FERNANDES, L. G. Segue teu destino: reflexões sobre o uso das redes sociais na construção do futuro da psicologia enquanto profissão. CadernoS de PsicologiaS, n. 6. Disponível em: https://cadernosdepsicologias.crppr.org.br/segue-teu-destino-reflexoes-sobre-o-uso-das-redes-sociais-na-construcao-do-futuro-da-psicologia-enquanto-profissao/. Acesso em: __/__/___.
APA — Fernandes, L. G. Segue teu destino: reflexões sobre o uso das redes sociais na construção do futuro da psicologia enquanto profissão. CadernoS de PsicologiaS, n6. Recuperado de: https://cadernosdepsicologias.crppr.org.br/segue-teu-destino-reflexoes-sobre-o-uso-das-redes-sociais-na-construcao-do-futuro-da-psicologia-enquanto-profissao/