A questão, que parece até trivial, serve para ilustrar a complexidade e a potência de se tramar uma revista como a CadernoS de PsicologiaS. Se a pessoa leitora, em um primeiro momento, deixou-se levar pela consulta ao tamanho do volume que tem em mãos (ou em tela), isso mostra apenas uma parte da processo.
Mas não são só essas as páginas que fazem uma revista; há outras tantas invisíveis. A imagem de uma pessoa escrevendo, criando e amassando papéis ainda se atualiza: escrever é escrever. Há também as páginas de e-mail, que tramitam o recebimento, os termos, os fluxos com cada pessoa psicóloga que se deixa levar pelo desejo de transmitir e produzir saber. Há as páginas escritas por cada parecerista, que, ao examinar os textos, preocupou-se para que a tríade ética-estética-política da CadernoS de PsicologiaS fosse atravessada pelo cuidado. São muitas outras páginas que, tal como andaimes, se fazem para dar sustentação a esse corpo, agora aqui presente.
CadernoS de PsicologiaS, afirmamos. Com esse “S” maiúsculo, ao final, refaz-se o tributo às multiplicidades, às diferentes formas de apreender um objeto e a conceber sujeitos, às pessoas em sua melhor voz: plural. É bom que seja assim, enquanto lembrete para vacinas antifascismo: corremos da ideia de “a” abordagem, “a” melhor concepção de sujeito, “a” mais potente resistência. Preferimos sabereS, sujeitoS e seus levanteS. Nosso tributo ao plural acaricia às diferenças.
Sim, no meio do caminho tinha um vírus. Atravessados pela pandemia, restou-nos olhar para a plasticidade e a capacidade de reconfiguração das práticas em Psicologia, com suas inquietações teóricas, suas obras de referência e defesa por Políticas Públicas submetidas por um outro giro: a Covid-19, com seus desdobramentos, aparece como “signo” em disputa. Reconfigurações que tomaram forma de textos a que, generosamente, profissionais da Psicologia nos possibilitaram o acesso.
Uns aí localizam evidências e discursos de um fim de século; há aqueles que esperam outro mundo possível, a partir desta fratura; há os que temem pela sorte, os que contam lucros e, infelizmente, não param de haver os que choram pelos mortos. Em meio a tudo, o pior pânico possível parece ser a vida fluindo em meio da Covid-19, como “como se nada estivesse acontecendo”. Seria este um delírio distópico?
Pensar sobre delírios exige olharmos a realidade: nesse sentido, re-trilhamos o caminho da ciência. Olhamos o mundo, e contemplamos diante dos fenômenos todos entrelaçados o tamanho do nosso não saber. Em cada texto desta revista, em cada nota das produções da equipe técnica do CRP-PR, em cada relato de experiência aqui percebe-se uma tônica, uma curadoria, uma fina linha que parece cerzir os textos. Esperamos que essas linhas possam ser lidas.
Ainda, é necessário dizer: uma revista se faz com aquelas páginas que ainda serão escritas: as ideias aqui expostas hão de fomentar debates, hão de inspirar outros relatos de experiência, hão de acolher e convocar discórdias e contrapontos. É isso que desejamos.
Oxalá sejam suas estas muitas outras linhas e páginas por vir!